2008 E 2009 PARA OS MOVIMENTOS SOCIAIS

O 2008 para os Movimentos Sociais e os desafios desse ano – Qual será a capacidade dos movimentos sociais de apresentar saídas para essa crise? – Michelle Amaral da Silva
Certamente, para os movimentos sociais, não há muito que comemorar em 2008. Os seis anos do governo Lula, são merecedores de uma boa reflexão. A continuidade da política econômica de FHC, como mencionou seguidas vezes o então ministro da Fazenda Antônio Palocci, e suas políticas estruturantes em favor do capital – como a liberação dos plantios transgênicos –, motivam as críticas de uma parte da esquerda dos movimentos sociais e partido políticos. Do outro lado, as políticas assistencialistas, responsáveis pela melhoria das condições vida de uma fração da população mais pobre e o melhoramento dos índices de emprego, servem de combustível para uma outra parte da esquerda, defensora da estratégia política adotada pelo atual governo. É um governo que atendeu todas as exigências do grande capital, e mesmo assim é criticado e ridicularizado pela mídia burguesa. Esse mesmo governo, que destina migalhas com suas políticas assistencialistas aos pobres, obtêm sucessivos recordes nos índices de aprovação junto à população brasileira. A complexidade dessa situação ainda não é compreendida pelo conjunto dos movimentos sociais. Ou, pelo menos, passado já a metade do segundo mandato, os movimentos sociais ainda não lograram construir uma análise unitária desse governo.

Houve, no decorrer de 2008, várias iniciativas para fortalecer alguns instrumentos que pudessem sinalizar para uma unidade maior dos movimentos sociais e da forças progressistas da sociedade brasileira. A Assembléia Popular, a Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) e a Conlutas são, talvez, as mais significativas dessas iniciativas. Bem intencionadas, todas com a disposição de fortalecer a classe trabalhadora, mas nenhuma delas proporcionou uma unidade maior do movimento social e sindical. A sensação, chegado o término do ano, é que estamos ainda mais fragmentados.

Houve decisão política, disposição e trabalho para construirmos jornadas nacionais de lutas. As mobilizações em 8 de Março e a jornada de lutas em junho e outubro exemplificam as tentativas de mobilizar a sociedade. Jornadas importantes para manter acesa a chama da necessidade de lutar. Mas, restringiram-se a mobilizações de militantes sociais. Não conseguimos sensibilizar a sociedade e motivá-la para que se somasse às lutas. Não fomos além de nós mesmos.

Ainda, em 2008, houve poucos avanços, quase inexistentes. No debate sobre a necessidade de termos um projeto popular de desenvolvimento para o país. Aqui, novamente, parece haver barreiras instransponíveis para se buscar uma unidade maior. Para parte da esquerda, basta reafirmar o projeto socialista. Para outra parte, o projeto popular é imprescindível para acumular forças e sinalizar para sociedade uma alternativa de desenvolvimento oposta à apresentada pela burguesia. E, infelizmente, há também a parte que sucumbiu aos ditames do grande capital. As eleições municipais, de 2008, atestaram essa ausência de debates sobre a necessidade de um projeto popular.

Por último, passado mais um ano, os movimentos sociais precisam renovar seus métodos de trabalho de base. Aumentou a distância entre as organizações populares e a sociedade em geral. Isso é válido para os movimentos estudantis, sindicais, urbanos e rurais e pastorais sociais. É preciso chegar até as pessoas, fazê-las conhecer a mensagem política e motivá-las a participarem de alguma forma de organização social e política. Infelizmente, os movimentos sociais perderam essa capacidade nas duas últimas décadas. Aperfeiçoaram-se os discursos de grandes análises, refinada elaboração teórica e radical combatividade, ao mesmo tempo que se perdeu a capacidade de procurar e falar individualmente com as pessoas ou pequenos grupos.

Todos esses percalços de 2008 servem para constar que há muito que fazer em 2009. A classe trabalhadora deve sim resgatar suas capacidade de pensar um projeto popular de desenvolvimento, de buscar a unidade, de recuperar a força do trabalho de base e de formação política dos seus militantes e de promover jornadas nacionais de lutas. São objetivos permanentes das forças populares que se dispõem ir além da retórica e realmente querem fazer a transformação da nossa realidade.

Essa crise financeira, gerada pelo próprio desenvolvimento do capitalismo, joga um papel instigante para os movimentos sociais. Qual será a capacidade dos movimentos sociais de apresentar saídas para essa crise? A burguesia brasileira, sem um projeto de desenvolvimento nacional para o país e totalmente subordinada aos interesses do capital internacional, é incapaz de apresentar saídas para crise. Se restringirá à medidas paliativas, que visam apenas amenizar seus efeitos e repassar os custos para a classe trabalhadora.

No entanto, os movimentos sociais apenas se farão ouvir se lograrem uma maior unidade das forças populares e progressistas e, realmente, conseguirem colocar o povo nas ruas com jornadas nacionais de lutas. Os desafios são grandes. Por isso mesmo, há sim perspectivas de grandes vitórias em 2009. Que os movimentos sociais tenham a capacidade de dar respostas à altura desses desafios.

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