-A Grande Mídia agoniza. Viva a Mídia Livre!

Enquanto os jornalões e revistas semanais apostaram na oposição cega e vêm perdendo lucratividade e tiragem, a investigação, opinião e análise sérias estão nos blogs e veículos alternativos
Enquanto os jornalões e revistas semanais apostaram na oposição cega e vêm perdendo lucratividade e tiragem, a investigação, opinião e análise sérias estão nos blogs e veículos alternativos
Vinicius Souza e Maria Eugênia Sá, Ideias em Revista

A grande mídia agoniza em praça pública. Os chamados jornalões como o Jornal do Brasil, O Globo, Folha de S. Paulo e Estadão, além das revistas semanais como Veja, IstoÉ e Época jamais terão novamente o poder e a influência que tiveram ou pensavam ter num passado recente. E as grandes redes de TV como Globo e Bandeirantes devem seguir o mesmo caminho, apesar de sua derrocada ser mais lenta devido aos custos de produção, à capilaridade regional por meio das afiliadas e à penetração que têm nos rincões mais escondidos do Brasil. Para essas, contudo, também é só uma questão de tempo. No lugar dos meios de comunicação tradicionais, surge uma nova, ampla e heterogênea gama de veículos, alguns impressos mas a maioria digital. É a mídia alternativa, ou livre. E nesse embate tem sido fundamental a interatividade proporcionada pelos Blogs e sites de entidades, sindicatos, jornalistas, estudantes, profissionais liberais e até donas de casa. As pessoas comuns finalmente têm um megafone virtual para sua voz e estão juntas construindo o conhecimento e um entendimento melhor sobre o mundo real em que vivem.

O ponto de virada foram as últimas eleições presidenciais em 2006 e o processo se agudiza quanto mais nos aproximamos do pleito de 2010. A Grande Mídia foi aliada de primeira hora e apoiadora destacada do golpe civil-militar de 1964, sendo por isso um dos setores mais beneficiados pela ditadura. Um dos exemplos flagrantes é acordo inconstitucional com a estadunidense Time-Life que deu a Roberto Marinho US$ 6 milhões que lhe permitiram construir a Globo em 1965 e torná-la a mais influente rede de TV do país nos anos seguintes. Outros acordos, no entanto, foram menos claros, como os retratados pela pesquisadora Beatriz Kushnir no livro "Cães de Guarda - Jornalistas e Censores, do AI-5 à Constituição de 1988" em que são apresentados casos como o do funcionário da Abril enviado por Victor Civita para treinar os censores em Brasília, e dos bastidores da Folha da Tarde, Jornal do mesmo grupo da Folha de S. Paulo que cedia as vans de entrega para transportar presos políticos para sessões de tortura. Com as benesses da ditadura, a Folha se tornou o diário de maior circulação no país. Certamente um agrado para quem em editorial de 1971 chama o governo militar de “sério, responsável, respeitável e com indiscutível apoio popular”, e mais, que “está levando o Brasil pelos seguros caminhos do desenvolvimento com justiça social”.

Nos anos 1980, com o apoio ao movimento pelas Diretas Já e o discurso de jornalismo “profissional, imparcial e isento”, como se isso fosse possível, a Folha atingiu o seu ápice em tiragem e credibilidade. Na virada da década a Globo mostrou todo o seu poder “elegendo” Fernando Collor de Melo com o debate editado no Jornal Nacional, e ajudando a derrubá-lo inflando os “caras-pintadas”. Mas a decadência viria na sequência. O início do fim foi a conspiração da mídia na criação do “escândalo do mensalão", até hoje não provado, com o objetivo declarado pela oposição de “sangrar até a morte” o Governo Lula. Contudo, apesar das manchetes, dossiês e aloprados, não conseguiram eleger seu candidato. E na esteira dos poucos veículos e blogs que então remavam contra a maré, como a revista Carta Capital e os diários de Internet de jornalistas do porte de Luís Nassif (http://colunistas.ig.com.br/luisnassif/) e Paulo Henrique Amorim (http://www2.paulohenriqueamorim.com.br/) , descobrimos que era possível comprar matérias de capa em revistas do porte e da antiga credibilidade de IstoÉ.

A Veja, então, abriu uma cova sob seus pés, enveredando totalmente para a ficção, os assassinatos de reputação e a falta de qualquer escrúpulo ou critério jornalístico, sempre em benefício de acordos comerciais e da oposição cega ao governo. Para não nos alongarmos em exemplos, basta citar os 22 capítulos da série “O Caso de Veja” (http://luis.nassif.googlepages.com/ ), que no auge chegou a ter link em cerca de 800 blogs. O problema é que o resto da Grande Mídia embarcou com tudo na onda achando que poderiam vender mais jornal com oposição a qualquer custo e manchetes cada vez mais sensacionalistas e não com o investimento em jornalismo sério. O resultado tem sido exatamente o inverso. Segundo os números do Instituto Verificador de Circulação – IVC, em fevereiro desse ano as vendas dos dez maiores jornais diários do país caíram 6,45% em relação à fevereiro de 2008. E a queda só não foi maior por causa de jornais mais populares, como o mineiro Super Notícia (R$ 0,25 e segundo no ranking nacional) cuja circulação caiu “apenas” 3,3%. A tiragem da Folha, com quase 300 mil exemplares por dia, por exemplo, caiu 6,6% no período. O Globo foi além, com queda de 9,3%, mas ainda abaixo do Estadão (-15,3%). Os números globais do IVC, no entanto, mostram que a circulação de jornais no Brasil cresceu 5% em 2008, puxada exclusivamente por veículos fora do ranking dos dez maiores.

Todos os grandes jornais tiveram perdas pesadas de circulação durante toda a última década apesar do aumento da população e da alfabetização. A Folha caiu de uma média diária em 2000 de 429.476 exemplares (chegou a tirar 1,25 milhão de exemplares com vendas de fascículos de um atlas aos domingos em 1995) para 298.352 em março desse ano. O Estadão foi de 391.023 para 217.414; o Diário de S. Paulo de 151.831 para 61.088; e o Jornal da Tarde de 58.504 para 50.433. Nos outros estados acontece o mesmo: O Dia tirava 264.752 em 2001 e hoje não chega a 100 mil exemplares; O Globo caiu de 334.098 em 2000 para 260.869. O Extra caiu menos, de 264.715 para 258.324; assim como o Correio Braziliense (de 61.109 para 52.831). Já o Correio do Povo foi de 217.897 exemplares diários em 2000 para 155.774 em março último.

“Os jornais vêm perdendo tiragem desde o meio da década de 1990, mas até 2006 os colunistas garantiam uma certa pluralidade na mídia que eu chamo de ‘formadora de opinião’, que é fundamentalmente manipuladora, só que isso acabou”, disse Nassif na mesa redonda “A mídia em debate”, promovida pela Agência Carta Maior no último dia 24 de abril (http://www.cartamaior.com.br/templates/tvMostrar.cfm?evento_tv_id=52). “O exemplo mais claro é que os ‘formadores de opinião’ apostaram todas as suas fichas no Gilmar Mendes como grande figura da oposição e o transformaram em uma unanimidade: o sujeito mais odiado do Brasil”. De fato, apesar da Globo ter tentado manipular os telespectadores contra o Ministro Joaquim Barbosa, o vídeo da discussão entre os dois, amplamente divulgado pelo YouTube (http://www.youtube.com/watch?v=sIUdUsPM2WA), mostra para quem quiser ver, as grosserias de Gilmar Mendes com o colega. Apesar disso, no final de semana seguinte apenas a Carta Capital trouxe o assunto na capa. A Veja, que havia dado uma capa elogiosa a Barbosa quando esse denunciou os supostos participantes do mensalão como “quadrilha”, deu uma notinha interna com o preconceituoso título “O dia de índio de Joaquim Barbosa”, (tudo a ver com uma editora que tem 30% de suas ações nas mãos do o grupo de mídia sul-africano Naspers, que apoiou o Apartheid). Merval Pereira, do O Globo, seguiu a linha de que Barbosa teria “um histórico de desentendimentos com vários outros ministros”, e aproveitou para dar a informação de que Mendes tem uma foto de FHC em sua mesa de trabalho. Já Josias de Souza, em seu Blog na Folha Online, afirma que Mendes tenta “colocar panos quentes”, mas que Barbosa “é o recordista de processos pendentes de julgamento no STF” e que “Na ponta do lápis, já se indispôs com seis colegas”. Mas basta abrir os mais de 700 comentários ao texto original de Josias de Souza sobre o bate-boca para ver de que lado está a população. Isso se ainda estiverem lá, porque a UOL deletou o link para uma enquete sobre qual juiz tinha razão na discussão assim que viu os resultados esmagadores. Vão às ruas, jornalistas! Ou pelo menos leiam direito o recado da Internet.

Com a pluralidade e a articulação entre os blogs, portais e sites de análises que surgiram principalmente depois das eleições de 2006, o povo já não engole tão fácil qualquer manipulação. E exige, nas ruas e na Internet, a retratação e o reposicionamento dos veículos. Quando a Folha usou a desculpa de mais um editorial contra o presidente da Venezuela Hugo Chavez para introduzir no Brasil o vocábulo “ditabranda” e depois chamou dois conceituados professores universitários de cínicos e mentirosos por não aceitarem essa nomenclatura, o Movimento dos Sem Mídia (http://edu.guim.blog.uol.com.br/) convocou uma protesto em frente ao jornal. A notícia correu de blog em blog, sem qualquer divulgação mais organizada. Em uma manhã de sábado com cara de chuva, mais de 500 pessoas compareceram ao local, obrigando a direção da Folha a voltar atrás e afirmar em nota assinada pela redação que foi “um erro” utilizar a expressão. Mas infelizmente o jornal não se emendou.

No último dia cinco de abril, a Falha novamente tenta manipular seus leitores com uma grosseira “revisão histórica”. Em matéria de capa com o objetivo claro de torpedear a futura candidatura presidencial da Ministra da Casa Civil Dilma Rousseff, o jornal deturpou uma entrevista dada pelo antigo dirigente militar da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares – VAR Palmares, para afirmar em manchete que “Grupo de Dilma planejou sequestro de Delfim”. Pior, o jornal publicou também na primeira página o que seria uma “ficha policial” da ministra que teria sido fornecida pelos arquivos do DOPS com os crimes a ela atribuídos. Imediatamente o entrevistado Antonio Roberto Espinosa desafiou a Falha a publicar (ainda que apenas na versão online) a íntegra da entrevista gravada para provar que ele jamais disse que Dilma saberia do tal plano de sequestro, que no final não ocorreu. A negação da própria ministra também ficou escondida no meio do texto interno e suas dúvidas sobre a autenticidade da ficha passaram ao largo. Foram necessários mais 20 dias e muita mobilização na Internet para o que jornal publicasse, novamente sem destaque em uma página interna, que houve “um erro técnico” ao dizer que a ficha pertenceria ao DOPS, já que “a imagem” na verdade teria sido enviada “por uma fonte” e que sua “autenticidade, pelas informações hoje disponíveis, não pode ser assegurada - bem como não pode ser descartada”.

A tal ficha é uma fraude tosca produzida provavelmente por antigos torturadores e que circula na Internet em sites de direita há mais de um ano. De acordo com Espinosa, o “provável autor, é o hoje coronel reformado (na época major) Lício Augusto Ribeiro Maciel, o Dr. Asdrúbal, torturador e assassino de dezenas de pessoas em Xambioá. A seguir foi reproduzida por dois dos mais conhecidos blogs da direita mais reacionária, também alimentado por quadros subalternos do regime militar, o ‘Ternuma’, do notório coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, e o ‘A verdade sufocada – As histórias que a esquerda não quer contar’, também mantido por sargentos e oficiais de baixo escalão dos porões”. Não por coincidência, a desculpa da Folha de que não poderia provar a fraude é a mesma usada pela Veja há alguns anos para publicar um dossiê forjado por Daniel Dantas para acusar vários membros do Governo Lula de possuírem contas ilegais em paraísos fiscais. Com isso, e assegurando o anonimato da fonte da “imagem”, o jornal tenta se eximir de futuros processos judiciais. O próprio ombudsman do jornal, Carlos Eduardo Lins da Silva, em seu artigo “Até ver se a ficha cai” de 03/05/2009 (um mês após a publicação da ficha forjada), lamenta que a Redação “encerrou a apuração desse episódio seriíssimo e não acha necessário rever procedimentos de checagem de informações”, que apesar do “Manual” do jornal prever a identificação de fontes que passem “informações erradas” isso não foi e nem será feito no caso, além de nenhum funcionário ser punido. Ele, no entanto, tem “poder” apenas para “sugerir” mudanças.

Mas se os jornais, revistas e TVs estão perdendo leitores e credibilidade com suas fraudes e manipulações, a quem interessa a publicação desse tipo de matéria? Obviamente à oposição! E a alguns interesses comerciais dentro das “empresas jornalísticas”. Nesse ponto, novamente a Internet e sua vasta rede de colaboradores comuns, gente do povo, tem muito a contribuir. “O blog é um show dos leitores na construção do conhecimento”, diz Nassif. “Quando publiquei o relatório interno do STF sobre o suposto grampo telefônico, em poucos minutos quatro técnicos e engenheiros enviaram mensagens informando que o rastreamento era equivocado, tendo sido feito de dentro para fora e não de fora para dentro do prédio e a única possibilidade seria de alguma equipe externa de TV. Algum tempo depois, outro leitor foi buscar as imagens do STF no Google Earth e demonstrou que para haver um grampo externo, a recepção teria que ter sido feita necessariamente do estacionamento do STF, do Congresso ou do Palácio do Planalto e que à 1:00 da manhã certamente haveria um registro de quem estaria nesses locais. Assim, a Policia Federal não pode fechar esse caso porque teria que afirmar categoricamente que o Presidente do Supremo mentiu deliberadamente com o objetivo de plantar uma notícia falsa na imprensa”.

Também na Internet, por meio dessa rede de blogs, é possível rastrear uma série de pagamentos sem licitação realizados diretamente pelo Governo de São Paulo aos representantes da Grande Mídia. Por meio da Secretaria de Educação, o candidato do PSDB, José Serra, transferiu à Editora Abril, da Veja, os endereços residenciais de todos os professores da rede pública para que recebessem a revista Nova Escola. São 220 mil assinaturas no valor de R$ 3,7 milhões. Se forem incluídos os exemplares do Guia do Estudante, também da Abril, o custo total aos cofres públicos estaria perto de R$ 10 milhões somente no segundo semestre de 2008. Esse ano, segundo o contrato 15/014/09/04 publicado no Diário Oficial em 15 de abril, são mais R$ 12.963.060,72 para 25.702 assinaturas da Revista Recreio, também da Abril, por 608 dias. Mas os jornalões não podiam ficar de fora, por isso estão sendo adquiridas esse mês mais 5.449 assinaturas da Folha de S. Paulo e 5.449 assinaturas do Estadão para distribuição em todas as escolas da Rede Estadual de Ensino do Estado de São Paulo, tudo, claro, sem licitação. Os processos administrativos não trazem o período de assinatura e nem o valor dos contratos. Mas se for pelo valor integral (como ocorreu nos outros casos citados) da assinatura anual de cada jornal todos os dias da semana, estamos falando em algo em torno de R$ 7 milhões. Por outro lado, o Movimento dos Sem Mídia estima que a Folha tenha perdido dois mil assinantes somente durante o episódio da “ditabranda”. Nada mais justo do que o governo de São Paulo recompensar um jornal aliado, certo?


Publicado originariamente na Ideias em Revista – SisejufeRJ – abril/maio 2009

Vinicius Souza e Maria Eugênia Sá são jornalistas, fotógrafos e documentaristas independentes.

http://mediaquatro.sites.uol.com.br


Fonte: Jornal Brasil de Fato - www.brasildefato.com.br

-"Amazônia é um grande empório, mas vamos pagar o preço"



Do IHU On-Line


40% do rebanho bovino, no Brasil, é produzido na Amazônia. Segundo informações do nosso entrevistado, Mario Menezes, 73 milhões de hectares da Amazônia já foram desmatados e, desse total, mais de 80% foi feito pelos agropecuaristas. De toda a carne produzida na Amazônia, 1/3 é enviado para exportação. “O poder aquisitivo das pessoas que vivem na Amazônia é muito baixo e poucas pessoas podem comer carne”, disse Menezes, que é diretor-adjunto da Organização Amigos da Terra e recentemente publicou um estudo intitulado A hora da conta: pecuária, Amazônia e conjuntura.


Mário Menezes traz dados importantes para entendermos a que nível chegou o desmatamento da floresta e o que é preciso ser feito para reduzir o problema. “Estamos trocando a Floresta Amazônica por grão e carne que poderiam continuar sendo produzidos em outras regiões”, afirma ele, nesta entrevista concedida por telefone à
IHU On-Line.

Mario Menezes trabalha na Amazônia há 32 anos, 20 dos quais mais diretamente com a problemática socioambiental da região.


Confira a entrevista.



Para conter a expansão das atividades dos frigoríficos e, por consequência, os problemas na Amazônia, o BNDES deve conter os investimentos nessa área?


Conter não, mas reorientar, com certeza. É isso que o estudo indica. Os recursos públicos em geral não devem ser destinados para a expansão agropecuária na floresta, justamente o que está acontecendo hoje. O estudo aponta para uma reorientação no sentido de verticalizar a atividade agropecuária, ou seja, concentrar a atividade em áreas já alteradas e aumentar a produtividade da atividade para evitar essa expansão sobre a floresta.


O que permitiu que 40% do rebanho bovino do país fosse criado na Amazônia?

Primeiro, a falta de uma política pública coerente. Estamos falando de um ecossistema florestal. A vocação natural da Amazônia é florestal, não agropecuária. Tem área para a agropecuária? Tem e ela está dando a sua contribuição no que se refere ao desenvolvimento da agropecuária no Brasil. No entanto, a Amazônia não pode ser uma grande fazenda, pois presta um serviço florestal para todo o Brasil, inclusive para o Sul (principal área do agronegócio).


Os empresários desse ramo alegam que acabar com o gado ilegal na Amazônia é algo impossível. Como o senhor vê as razões que eles dão para justificar o problema?


Não tem razão alguma. Eles mesmos sabem que não precisam tirar “um palito” da floresta para aumentar a produção para exportação. O discurso é absolutamente contraditório com a prática, ao mesmo tempo em que o governo fica “enfiando” dinheiro na região para expandir a atividade. O discurso é um e a prática é outra. Só no Pará existem 18 milhões de hectares abandonados, segundo o próprio governo. Então, para que desmatar? É como se pudesse haver crescimento apenas se desmatasse tudo. Qual Brasil queremos para o futuro? Só podemos crescer se for desmatando? Isso não faz sentido! Se fosse assim, o mundo estaria perdido, sem poder crescer. É a floresta que nos assegura a vida. Precisamos fazer um esforço enorme para manter a concentração de carbono na atmosfera a um nível que as mudanças climáticas não sejam drásticas a ponto de a vida começar a se inviabilizar aqui. Se não contarmos com a floresta para manter esse equilíbrio, não iremos conseguir manter a vida. Este é nosso grande desafio. A questão não é só ambiental. A questão é que não temos saída sem floresta. Não estamos querendo inviabilizar o desenvolvimento do país. Temos a maior floresta do mundo, com maior diversidade e estamos dando um tiro no nosso pé.


O Brasil está disposto a fazer essa luta? Como fica a luta dos movimentos ambientalistas diante dessa realidade?


Precisamos arranjar uma forma de convencer as autoridades e os empresários de que podemos produzir da forma como foi produzido até hoje, em volume, em qualidade, mas de uma maneira diferente. Não precisamos destruir nosso ativo ambiental (as florestas, principalmente) para continuar produzindo. O governador do Mato Grosso do Sul fala que não precisamos desmatar mais. A nossa luta é para mostrar o óbvio. O próprio governo e autoridades dizem que não é preciso, mas continuam mandando dinheiro. É um contrassenso. Na ação, a postura é diferente do discurso.


O problema é, então, a impunidade?


Grande parte do território da Amazônia é pertencente ao Poder Público e a gestão sobre essas áreas é precaríssima, tanto que a grilagem continua. É preciso continuar com o desenvolvimento, mas não dessa forma. Porque abrem as fronteiras dessa forma e deixam as pessoas fazerem o que bem entendem e ainda por cima com dinheiro público. Sendo que o processo poderia continuar sendo produtivo, porém, de forma sustentável. Isso é absolutamente possível.


Que consequências já podem ser vistas pela expansão do gado na Amazônia e quais ainda estão por vir?


A consequência mais importante é o desmatamento, ou seja, é a atividade de frente. Para desenvolver a pecuária, depois que se tira a madeira, a primeira coisa que se faz é colocar pasto e trazer o boi. Isso porque a atividade pecuária é de custo baixo e imagina como fica o custo numa terra pública que não é bem gerida. Se formos vizinhos nessa região e você comprou a terra e eu grilei, seu custo é muito maior. No entanto, quando a carne chega no mercado, o preço é o mesmo e eu saio ganhando. Essa é a grande consequência, porque com o dinheiro que ganhei vou comprar mais terra e desmatar mais. É uma bola de neve, que só irá acabar quando a floresta desaparecer. Estamos trocando a Floresta Amazônica por grão e carne que poderiam continuar sendo produzidos em outras regiões. É contra isso que lutamos.


Quais os cálculos das perdas que a pecuária já causou na Amazônia?


Hoje, temos mais ou menos 73 milhões de hectares desmatados na Amazônia e a pecuária ocupa cerca de 60 milhões. A partir daí, já podemos ter uma ideia. Nós transferimos a pecuária do Brasil para a Amazônia, ou seja, para um bioma que não pode receber esse impacto, porque a vocação dele não é esta. A Floresta Amazônica só existe porque ela nutre a si mesma, pois grande parte do solo da Amazônia é podre. Quando você entra nessa floresta, quebra esse ciclo. E, como o solo é podre, a pastagem fica ali por pouco tempo. E aí o que se faz? Abandona-se a área e desmata mais ainda em outro lugar da floresta. A floresta é nossa “galinha dos ovos de ouro” e não precisamos mais desmatá-la. Imagine se o resto do Brasil desse a contribuição para produção de floresta, assim como a Amazônia contribui para a pecuária quando sua vocação é para ser floresta? Percebe o contrassenso? Cada região tem a sua vocação e precisamos respeitar isso. Estamos transferindo muitos problemas do Brasil para a Amazônia, que não irá dar conta disso.


A carne produzida na Amazônia é consumida por quem? O desenvolvimento local, de certa forma, cresceu com a demanda exigida da Amazônia hoje?


Mais ou menos 2/3 fica no Brasil. De 1990 até 2007, passamos a produzir na Amazônia, o que era impensável antes dessa época, ou seja, soja, carne, algodão, etanol, milho. Esse desenvolvimento todo não possibilitou o desenvolvimento local. Se pegarmos dados desse mesmo período, veremos que quase 40% da população continua vivendo na base da linha da pobreza. O Brasil está indo buscar lá o que precisa, mas não deixa nada para a Amazônia. Poucas pessoas na Amazônia se beneficiam desse processo. 50% da soja do país é produzida lá, 50% do algodão também, a carne está em torno de 36%. Então, 2/3 dessa carne é consumido pelo Brasil e 1/3 é exportado. O poder aquisitivo das pessoas que vivem na Amazônia é muito baixo e poucas pessoas podem comer carne. Essa é outra contradição. A Amazônia é um grande empório, mas nós vamos pagar o preço.


Um quilo de carne proveniente desses frigoríficos representa quanto de consequência para a Floresta Amazônica?


Não é que a pecuária seja a grande impactadora. Ela é a atividade de frente. Não é verdade que se não existisse a pecuária não existiria o desmatamento. O que falta são políticas públicas coerentes para manter a floresta produtiva e valorizá-la do ponto de vista econômico. Ela já funcionou assim e poderia continuar funcionando.


Fundamentalmente, o desmatamento precisa ser zero. Não se deve mais ir para a floresta para desenvolvimento da pecuária, mas apoiar as pessoas que moram na Amazônia e que a entendem como ninguém e produzem a partir dela sem destruí-la.


Fonte: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - www.mst.org.br

-MST prepara o 5º Encontro Nacional de Violeiros e Violeiras

Entre os dias 21 e 24/5, o MST e Associação Nacional de Violeiros (ANVB) realizam o 5º Encontro Nacional de Violeiros e Violeiras. Com o tema "Os Mestres e Mestras do Saber Popular", o encontro homenageará os grandes representantes das Fulias de Reis, Cantadores, Cururu, Samba, Oralidade Popular, e outras categorias dentre as quais estão os mestres e mestras da luta Luís Beltrame (SP), Elizabete Teixeira (PB), João Eleotério (MT) entre muitos outros.

O encontro faz parte da agenda nacional dos 25 anos do MST e é um espaço que representa algo estratégico para o movimento: a cultura como elemento formativo, organizativo e político da classe trabalhadora.


Durante os dois primeiros dias de encontro, 21 e 22/5, serão realizados os seminários e oficinas. Já nos últimos dois dias, 23 e 24/5, apresentações culturais e uma feira tomam conta de todo o espaço.


5º Encontro Nacional de Violeiros e Violeiras - “Os Mestres e Mestras do Saber Popular”

Data:
21 a 24 de maio de 2009. Local: Centro de Formação Sócio Agrícola Dom Hélder Câmara (Sítio Pau d’Alho) - Rodovia Alexandre Balbo Km 328, Anel Viário Contorno Norte - Ribeirão Preto - SP


Fonte: Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - www.mst.org.br

-Padre Josimo: Uma vida pela Vida



-10 de maio - Martírio do Padre Josimo



No dia 10 de maio de 1986,
Padre Josimo Morais Tavares, tombava na cidade de Imperatriz - MA diante da sede da CPT. Hoje, estamos fazendo memória deste evento, da cruz pós-moderna, da bala assassina que penetrou no corpo desse padre pastor e profeta. É um dia de reencontro com o passado, com a história de nossas Comunidades Eclesiais de Base, com a memória libertadora e, principalmente, com o testemunho, a amizade, a palavra daquele que anunciou a Palavra e com a teimosa fé-esperança que sustentaram a vida e a prática pastoral do tão nosso, companheiro e irmão, Padre Josimo Morais Tavares.

Fonte: CEBs Regional Sul 1 - www.cebs-sul1.com.br