Seminário comemora 40 anos da Teologia da Enxada

De 9 a 12 de outubro, acontecerá no Centro de Formação Missionária (CFM), localizado em Serra Redonda, interior do estado da Paraíba (Nordeste do Brasil), o seminário "Teologia da Enxada - 40 anos". O evento é uma realização da Fundação Dom José Maria Pires e tem como objetivo rememorar essa experiência teológica popular e pensar nas perspectivas do movimento.

"Comemorar os 40 anos da Teologia da Enxada significa dar um aceno para a Igreja e para a sociedade no sentido de alertar para a importância do protagonismo dos pobres e dos excluídos na caminhada da Igreja", comenta o teólogo José Batista, um dos fundadores da Teologia da Enxada.

Estarão presentes no seminário o arcebispo emérito da Paraíba, Dom José Maria Pires, o teólogo e escritor Pe. José Comblin, o também teólogo e biblista Frei Carlos Mesters, o deputado Federal Pe. Luis Couto, o arcebispo da Paraíba Dom Aldo Pagotto, e as teólogas Ivone Gebara e Maria Emília. Além destes, cerca de 200 pessoas ligadas à história da Teologia da Enxada também deverão participar.

A programação de três dias de evento prevê oficinas temáticas, plenárias, leitura da caminhada realizada durante estes 40 anos, visita a Salgado de São Félix, local da primeira experiência da Teologia da Enxada, cursos e celebrações eucarísticas, além de apresentações culturais, que deverão acontecer à noite. O Seminário será encerrado com uma Celebração Eucarística de Memória e Ação de Graças, no Município de Salgado de São Felix (PB), local da primeira experiência.

História

Em 1969, um grupo de 10 estudantes de Teologia decidiu ensinar e estudar a teologia de maneira nova, por meio de diálogos com os agricultores e as famílias camponesas. Durante três anos, os jovens viveram no interior e se dedicaram ao trabalho no campo e ao estudo da teologia. Dessa experiência se originou a Teologia da Enxada.

"Nós buscávamos entender as aspirações populares, ou seja, existia uma inversão, pois, ao invés de dialogarmos com outras correntes teológicas nós conversávamos com o povo. E o diálogo é base fundamental da Teologia da Enxada. Nosso intuito era transmitir a Teologia de forma adequada. Essa era uma maneira de devolver o que estudávamos", explica João Batista.

Diferente do que alguns acreditam a Teologia da Enxada não provém diretamente da Teologia da Libertação. Elas são apenas próximas, conforme esclarece João batista. A doutrina é exclusivamente bíblica, de modo a evitar todas as abstrações e conceitos filosóficos, já que estes elementos não pertencem à cultura popular. Neste movimento é falada a linguagem dos pobres para que estes possam ser os propulsores de sua própria luta e história.

Passados 40 anos, diversas pessoas se uniram ao movimento e abraçaram a Teologia da Enxada para experimentar um novo modo de viver e para repassá-la aos pobres. Atualmente, muitas iniciativas de formação e associações missionárias do Nordeste têm a sua inspiração nessa nova forma de pensar e agir.

Natasha Pitts - Jornalista da ADITAL


Fonte: www.adital.com.br

Carta a representante da ONU pelo retiro das tropas no Haiti

Carta aberta da população brasileira ao Conselho de Segurança das Nações Unidas

Nós, o povo brasileiro organizado, movimentos sociais, sindicatos, partidos políticos, organizações sociais e outras entidades, estamos envergonhados pelo triste papel que as tropas militares, através da Missão de Estabilização do Haiti -MINUSTAH- vêm desempenhando nesse país. Não se tem notícias na história da humanidade que uma tropa de ocupação estrangeira tenha contribuído para melhorar as condições de vida de um povo. E muito menos para a sua libertação!

A presença de tropas brasileiras no Haiti é inaceitável. Além da vergonha que sentimos como povo,fere gravemente a soberania do heróico povo do Haiti, que sofre todos os males de anos de exploração. Nosso apoio deve ser material, de intercâmbio educativo e cultural, jamais militar. A ONU está gastando (uns 600 milhões de dólares anuais) para manter as tropas no Haiti. Essa quantidade é mais do que o necessário para resolver os problemas fundamentais de seu povo, a falta de energia, alimentos, habitação, educação e emprego.

Nesses cinco anos, não foram apresentados relatórios que informasse acerca de qualquer melhora nas condições de vida dos haitianos; ao contrário, tem havido muitos registros de violações dos direitos humanos por parte das próprias tropas estrangeiras que invadiram o país. Nós, movimentos sociais do Brasil, estamos dispostos a ajudar em tudo o que o povo do Haiti solicite. Sabemos que o Conselho de Segurança da ONU no dia 15 de outubro de 2009 terá que votar pela renovação ou não do mandato da MINUSTAH. Por tudo o que afirmamos anteriormente, os abaixo assinados nos pronunciamos pela imediata retirada das tropas brasileiras da MINUSTAH do território haitiano. E exigimos que as tropas da ONU ponham fim a essa missão de ocupação e violação dos direitos do povo do Haiti.

Assinam:

Organizações:
AMAR RJ - Associação de Mães e Amigos de Crianças e Adolescentes em Risco
APS - Ação Popular Socialista
Assembléia Popular RJ
Associação de favelas de São José dos Campos
Associação Americana de Juristas
Conselho de Leigos da Arquidiocese de São Paulo
Casa da América Latina
CMP - Central dos Movimentos Populares
Coletivo de Hip Hop LUTARMADA
Conlutas
Direito para Quem?
Fórum de Meio Ambiente dos Trabalhadores
Grupo Cultural CLAM
GT Negros BH
Instituto dos Defensores dos Direitos Humanos - IDDH
Instituto Políticas Alternativas para o Cone Sul - PACS
Instituto São Paulo de Cidadania e Política
Instituto Tamoio dos Povos Originários
Jubileu Sul Brasil
Justiça Global
Mandato Deputado Estadual Marcelo Freixo - PSOL RJ
Mandato do Deputado Federal Chico Alencar - PSOL RJ
Mandato do Vereador Eliomar Coelho - PSOL RJ
MORENA - Movimento Revolucionário Nacionalista - Círculos Bolivarianos
Consulta Popular
MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
MPA - Movimento dos Pequenos Agricultores
MTST - Movimento dos Trabalhadores Sem Teto
PCB - Partido Comunista Brasileiro
PSTU - Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados
Rede Social de Justiça e Direitos Humanos
Rede Brasileira de Ecossocialistas
Rede de Comunidades e Movimentos contra a Violência
SINPRO - Friburgo RJ
SINDEESS (Sindicato dos empregados em estabelecimento serviços de saúde)
União da Juventude Comunista
PSOL - Partido Socialismo e Liberdade INTERSINDICAL
NIEP- Marx- UFF - Núcleo Interdisciplinar de Estudos e Pesquisas Marx e o marxismo - UFF
Comitê Mineiro do Fórum Social Mundial - FSMMG
Movimento Palestina para Todos
Instituto da Cidadania Araranguá
ASPLANDE - RJ
MSTB - Movimento Sem Teto da Bahia
Núcleo Socialista de Campo Grande

Pessoas:
Ivan Pinheiro - Secretário Geral do PCB
Virginia Fontes - historiadora e professora
Douglas Rezende articulador da Rede Fale no Paraná, membro do EPJ - Evangélicos Pela Justiça.
Vladimir Lacerda Santafé - Professor de Filosofia
Camila Cruz e Cunha Barbosa
Sandra Bello
Ângela Aparecida da Silva - Militante da Marcha Mundial de Mulheres
Eduardo Marinho - Artista Plástico e Poeta

A educação do MST

A democratização do conhecimento é considerada tão importante quanto a Reforma Agrária no processo de consolidação da democracia. Além dos acampamentos à beira de estradas, das ocupações de terra e de marchas para pressionar pela desconcentração da terra, o MST luta desde 1984 pelo acesso à educação pública, gratuita e de qualidade em todos os níveis para as crianças, jovens e adultos de acampamentos e assentamentos.

Os esforços nessa área buscam, sobretudo, a erradicação do analfabetismo de nossas áreas de acampamento e assentamento, e a conquista de condições reais para que toda criança e todo adolescente estejam na escola.

Para isso, é preciso capacitar e habilitar professores como sabedores das necessidades dos estudantes.

A educação no MST acontece de maneira permanente, em um movimento continuado de formação das pessoas. Escolarizar é incentivar a pensar com a própria cabeça, é desafiar a interpretar a realidade, elevando o nível cultural. É criar condições para que cada cidadão e cidadã construam, a partir dos seus pontos de vista, seus destinos.

Para isso, é fundamental garantir o acesso de crianças e jovens à educação e à escolarização nos vários níveis, em cumprimento do artigo 6 da Constituição que declara que a educação faz parte dos direitos sociais. Hoje, o trabalho com educação no MST está organizado em todo o país, desde a educação infantil à educação superior, em várias áreas do conhecimento.

Em toda a nossa história, foram conquistadas 2.250 Escolas Públicas nos acampamentos e assentamentos em todo país (das quais 1.800 até a 4ª série, 400 até o Ensino Fundamental completo).

Há 300 mil trabalhadores rurais estudando, entre crianças e adolescentes Sem Terra, dos quais 120 mil em escolas públicas.

Mais de 350 mil integrantes do MST já se formaram em cursos de alfabetização, ensino fundamental, médio, superior e cursos técnicos.

Mais de 4 mil professores foram formados no movimento e em torno de 10 mil professores atuam nas escolas em acampamentos e assentamentos.

Mais de 100 mil Sem Terra foram alfabetizados, entre crianças, jovens e adultos.

Por ano, há aproximadamente 28 mil educandos e 2 mil professores envolvidos em processos de alfabetização.

Por meio de parcerias com universidades públicas, trabalhadores rurais do MST estudam em 50 instituições de ensino, em cursos técnicos de nível médio, cursos superiores e especializações, somando aproximadamente 100 turmas de cursos formais e mais de 5 mil educandos nestas instituições.

Do desafio de garantir a educação do campo, principalmente durante as lutas, surgiram outras inovações importantes, como as Escolas Itinerantes, que acompanham os acampamentos, que não têm localidade fixa. Essas escolas já foram aprovadas legalmente aprovadas e reconhecidas pelo Conselho Estadual de Educação no Rio Grande do Sul (onde sofre atualmente com uma grande perseguição política), Santa Catarina, Paraná, Goiás, Alagoas, Pernambuco e Piauí. São 32 escolas, 277 educadores e 2.984 educandos envolvidos num processo educativo permanente. As Escolas Itinerantes do MST são espaços de conhecimento, criação, socialização com base em valores ético-políticos libertários e democráticos, e se deslocam junto com os acampamentos.


Fonte: www.mst.org.br

Jornada Nacional de Lutas dos Sem Terrinha

Em outubro acontece, nos 24 estados em que o MST está organizado, a Jornada Nacional dos Sem Terrinha. Os assentamentos, acampamentos, escolas e centros de formação tornam-se palco de encontros que pautam, através da luta das crianças por escolas e pelo direito de ser reconhecido no campo como sujeito de sua própria história, a luta pela soberania popular.

As crianças Sem Terrinha são meninas e meninos que têm na sua formação a identidade da classe trabalhadora, são filhos e filhas da luta que inspiram o próprio Movimento. As Jornadas dos Sem Terrinha, realizadas desde 1996, integram as jornadas nacionais de lutas do MST e têm se constituído em um importante espaço de visibilidade à realidade vivenciada pelas crianças acampadas e assentadas. São também momentos que as colocam, em primeira instância, como as condutoras das ações realizadas, conferindo à luta um “jeito de infância”.

Neste ano, a Jornada dará seguimento às negociações feitas em Brasília durante o Acampamento Nacional pela Reforma Agrária, realizado no último mês de agosto. Na ocasião, os trabalhadores Sem Terra conquistaram do governo federal a promessa de recomposição orçamentária para o assentamento de famílias em todo o Brasil, a assinatura dos índices de produtividade rural e a construção de 280 escolas em assentamentos. Esta última demanda refere-se às necessidades emergenciais de escolas em cada estado e, durante a Jornada dos Sem Terrinha, vamos também cobrar essa promessa.

Ao longo do mês, serão realizadas atividades com o objetivo de garantir às crianças um espaço de cultura e lazer, de estudo e de reivindicação dos direitos; um espaço formativo, para que elas se tornem protagonistas e possam intervir junto com a comunidade na sua realidade.

Viva as crianças Sem Terrinha!
Por Escola, Terra e Dignidade!

Setor de Educação do MST.


Fonte: www.mst.org.br

O legado de Che Guevara

Em 9 de outubro cumpre-se o aniversário do assassinato de Che Guevara pelo exército boliviano. Após sua prisão, em 8 de outubro de 1967, foi executado friamente, por ordens da CIA. Seria ''muito perigoso'' mantê-lo vivo, pois poderia gerar ainda mais revoltas populares em todo o continente.

Decididamente, a contribuição de Che, por suas idéias e exemplo, não se resume a teses de estratégias militares ou de tomada de poder político. Nem devemos vê-lo como um super-homem que defendia todos os injustiçados e tampouco exorcizá-lo, reduzindo-o a um mito.

Analisando sua obra falada, escrita e vivida, podemos identificar em toda a trajetória um profundo humanismo. O ser humano era o centro de todas as suas preocupações. Isso pode-se ver no jovem Che, retratado de forma brilhante por Walter Salles no filme Diários de Motocicleta, até seus últimos dias nas montanhas da Bolívia, com o cuidado que tinha com seus companheiros de guerrilha.

A indignação contra qualquer injustiça social, em qualquer parte do mundo, escreveu ele a uma parente distante, seria o que mais o motivava a lutar. O espírito de sacrifício, não medindo esforços em quaisquer circunstâncias, não se resumiu às ações militares, mas também e sobretudo no exemplo prático. Mesmo como ministro de Estado, dirigente da Revolução Cubana, fazia trabalho solidário na construção de moradias populares, no corte da cana, como um cidadão comum.

Che praticou como ninguém a máxima de ser o primeiro no trabalho e o último no lazer. Defendia com suas teses e prática o princípio de que os problemas do povo somente se resolveriam se todo o povo se envolvesse, com trabalho e dedicação. Ou seja, uma revolução social se caracterizava fundamentalmente pelo fato de o povo assumir seu próprio destino, participar de todas as decisões políticas da sociedade.

Sempre defendeu a integração completa dos dirigentes com a população. Evitando populismos demagógicos. E assim mesclava a força das massas organizadas com o papel dos dirigentes, dos militantes, praticando aquilo que Gramsci já havia discorrido como a função do intelectual orgânico coletivo.

Teve uma vida simples e despojada. Nunca se apegou a bens materiais. Denunciava o fetiche do consumismo, defendia com ardor a necessidade de elevar permanentemente o nível de conhecimento e de cultura de todo o povo. Por isso, Cuba foi o primeiro país a eliminar o analfabetismo e, na América Latina, a alcançar o maior índice de ensino superior. O conhecimento e a cultura eram para ele os principais valores e bens a serem cultivados. Daí também, dentro do processo revolucionário cubano, era quem mais ajudava a organizar a formação de militantes e quadros. Uma formação não apenas baseada em cursinhos de teoria clássica, mas mesclando sempre a teoria com a necessária prática cotidiana.

Acreditar no Che, reverenciar o Che hoje é acima de tudo cultivar esses valores da prática revolucionária que ele nos deixou como legado.

A burguesia queria matar o Che. Levou seu corpo, mas imortalizou seu exemplo. Che vive! Viva o Che!

João Pedro Stédile - Integrante da coordenação nacional do MST e da Via Campesina.


Fonte: www.mst.org.br

"5 mil pés de laranja valem mais que milhares de vidas!"

Em novembro de 2004, quando militava no coletivo de Direitos Humanos do MST-SP e advogava no Centro de Direitos Humanos Evandro Lins e Silva, de Presidente Prudente, fui até a cidade de Iaras numa ocupação semelhante à que ocorre agora na cidade de Borebi.

Não era uma fazenda da Cutrale, mas a propriedade se dizia produtiva. Na ação, alguns trabalhaores rurais Sem Terra foram levados à delegacia para "averiguação" e eu me desloquei de Pirajuí, onde estava passando o final de semana com a família, para a delegacia de Iaras - onde pude realizar a soltura dos companheiros que se encontravam detidos.

Da delegacia rumamos para a fazenda, ocupada por cerca de 500 famílias. O cerco policial era grande e tentaram impedir minha entrada, porém fui liberado após uma longa negociação. Ao amanhecer do dia, cerca de 250 policiais da cavalaria e tropa de choque estavam no local pra realizar a desocupação da área (hoje isso se repete na fazenda de Borebi: PM chega à fazenda invadida por MST para cumprir reintegração de posse). Após um dia inteiro de negociações, conseguimos deixar a fazenda sem violência por parte da PM, mas depois de várias ameaças de prisão e do uso da força.

A região de Iaras, assim como a região de Araçatuba (ambas no interior de SP) é uma área de terras devolutas federais que, ao longo do tempo, foram griladas por latifúndios e que hoje pertencem fraudulentamente a empresas do agronegócio - que produzem especialmente cana, laranja e criam gado extensivamente. Desta forma, a ocupação dessas terras pelo povo nada mais é do que uma retomada justa. Não cabe aqui o argumento da produtividade, já que a posse da área é ilegal, baseada em documentos que carecem de autenticidade e que estão sendo objeto de ações judiciais para anulação.

A mídia transformou a ação numa bandeira de luta contra o movimento. E por que? Por um trator ter derrubado pouco mais de 5 mil pés de laranja? Não! a mídia ataca os trabalhadores pois eles tiveram a coragem revolucionária de arrancar da terra o câncer da monucultua do agronegócio e substituí-lo pela vida representada pelas sementes de feijão e milho. O que dói na mídia e no setor dominante não são míseros 5 mil pés de laranja (só esta fazenda tem 1 milhão de pés), mas sim a constatação de que os trabalhores não caem mais no conto da carochinha do agronegócio, que paga salários de miséria, mata trabalhadores de cansaço e ainda expulsa os pequenos agircultores de suas áreas. Em São Paulo existe uma lei que permite à Cutrale e a outras empresas do ramo invadir a casa de qualquer cidadão para cortar os pés de laranja e limão que estes por ventura tenham em suas casas. Segundo a lei, isso é feito em nome de uma defesa fitosanitária contra o cancro cítrico, mas é apenas mais uma forma de expropriar o povo de suas riquezas de biodiversidade e alimentos.

A mídia se escandaliza com pés de laranja sendo cortados e não se cansa de passar o mesmo filme do trator no laranjal, porém não deu qualquer notícia de cinco segundos da violência que sofreu a comunidade Apykay, do povo Guarani Kaiowá, que vivia em um acampamento às margens da BR-483, próximo ao município de Dourados, Mato Grosso do Sul, quando jagunços armados queimaram as casas e feriram um indígena a tiros. O episódio só foi para a mídia quatro dias depois do ocorrido, por conta de uma denúncia colocada na rede mundial de computadores por uma ONG internacional - e mesmo assim, não mereceu qualquer destaque, apenas uma breve chamada.

O INCRA, que trava batalha judicial pela área, presta um desfavor à luta do povo quando condena a ocupação desligitimando a luta em nome de uma estabilidade social e do respeito à propriedade privada. Propriedade esta que não foi respeitada pelos grileiros quando plantaram 1 milhão dé pés de laranja em terras da União. Estabilidade social que mata, escraviza e mutila os trabalhadores da indústria de sucos do interior de São Paulo.

Arrancar pés de laranja para plantar comida não é crime, crime é deixar milhares de hectares de terras públicas na mão de grileiros que plantam para os gringos e para seus animais comerem enquanto nossa população morre de fome: fome de comida e fome de JUSTIÇA!

Eduardo Camilo é advogado.


Fonte: www.mst.org.br

Mercedes Sosa: a mulher que cantou a voz dos excluídos de nossa América

Morreu na madrugada deste domingo (4/10) em Buenos Aires, ao 74 anos, a cantora argentina Mercedes Sosa. Sua morte se deu em consequência de uma doença hepática complicada por problemas respiratórios.

Ela havia sido internada em 18 de setembro, depois de ter sofrido uma complicação renal, mas seu estado piorou nos últimos dias por causa de uma falha cardiorrespiratória.

La Negra -- como é carinhosamente chamada em seu país-- é internacionalmente reconhecida pelo seu engajamento e por cantar voz dos excluídos na América. Nascida na cidade de San Miguel de Tucumán em 1935, Sosa teve uma atuação marcante durante a ditadura militar argentina, entre 1976 e 1983 e acabou exilada na Europa.

Mercedes Sosa sempre foi uma grande apoiadora da luta pela Reforma Agrária e companheira dos Sem Terra.

A seguir, leia a nota divulgada pela família da cantora.

"Somos los nietos, los hermanos, los sobrinos, el hijo de quien fue para nosotros algo más y distinto que una gran artista popular. Con ella compartimos la vida, las alegrías y las angustias privadas. Porque esa gran artista fue además nuestra abuela, nuestra hermana, nuestra tía, nuestra mamá. Es por eso que queremos llegar a ustedes desde ese lugar íntimo, lejos de la severidad y la dureza de los comunicados oficiales: porque sabemos que también la quisieron y la siguen queriendo aún mucho más allá de la cantante y de la artista que los acompañó tantas veces, a la que han hecho parte de su familia aún sin tener lazos de sangre.

Es desde este lugar que queremos contarles que Mercedes -la mamá, la tía, la abuela, la hermana-abandonó este mundo el día de hoy. Pero también queremos decirles que estuvo siempre acompañada-inclusive cuando ya no podía saberlo- por un desfile interminable de amigos y artistas populares, y en cada uno de ellos: Ustedes. Y que a pesar de lo triste de cualquier agonía, pasó esos últimos momentos en paz, peleando aguerridamente contra una muerte que terminó ganándole la pulseada.

Por cierto estamos conmovidos y queremos compartir con ustedes esta tristeza. Aunque, al mismo tiempo, nos queda la tranquilidad de que todos hicieron lo posible- incluida nuestra Negra- para quedarse un ratito más entre nosotros.

Lo que más feliz la hacía a Mercedes era cantar. Y seguramente ella hubiera querido cantarles también en este final. De modo que así queremos recordarla y así los invitamos a hacerlo con nosotros. Infinitas gracias por ese acompañamiento que jamás dejó de estar presente".

Familia de Mercedes

(Com informações do jornal Brasil de Fato)


Fonte: www.mst.org.br

Votorantim continua causando morte no rio São Francisco

Em 2 de outubro de 2009, dia do nascimento de Gandhi, antevéspera do dia de São Francisco de Assis, patrono do Velho Chico, cerca de 350 pescadores, Sem Terra, sindicalistas e representantes de Movimentos populares e da Via Campesina - membros da Articulação Popular em defesa do rio São Francisco - promoveram manifestação na cidade de Três Marias (MG), às margens do Velho Chico e no portão de entrada da Votorantim Metais.

Às 6h da manhã, após concentração na beira do rio São Francisco, iniciamos uma marcha, atravessando a ponte da BR 040, que está logo abaixo da barragem de Três Marias. Em frente à Votorantim Metais, a BR 040 foi bloqueada durante 30 minutos. Depois, aconteceu um Ato Público durante duas horas no portão de entrada da empresa, onde com faixas, gritos de luta e através de pronunciamento de muitas lideranças e pescadores foram denunciadas as agressões que a Votorantim vem provocando no rio São Francisco há 40 anos. No manifesto distribuído à população, assinado por 22 movimentos populares e sindicatos, consta, por exemplo, que:

a) A Votorantim é uma das principais empresas responsáveis pela poluição do rio São Francisco com metais pesados. Desde o final de 2004 já morreram 200 toneladas de peixes, principalmente surubins adultos contaminados por rejeitos tóxicos lançados pelo processamento de zinco da Votorantim Metais. Só de óxido de Zinco a produção chega a 110 toneladas por dia com 600 dólares de lucro por tonelada. A empresa vende esse produto, principalmente, para Pirelli, Michelin e outras indústrias de pneus que infestam as cidades de automóveis, prestando culto à automovelatria (carrolatria). Além de matar, diretamente, os peixes e, indiretamente, pescadores, causar devastação ambiental e social, a Votorantim infernaliza a vida nas cidades.

b) A Votorantim Metais começou a operar em 1969 e por 14 anos lançou seus rejeitos minerários diretamente no rio São Francisco. Somente em 1983 foi construída uma barragem de contenção de rejeitos. Mas, para facilitar a vida da empresa, a barragem foi construída na barranca do rio na cidade de Três Marias! Os metais pesados, através da infiltração, continuaram a se acumular no leito do rio. Hoje existe, no fundo do rio, um metro e meio de lama tóxica. Quando as comportas da barragem de Três Marias são abertas, essa lama é revolvida, contaminando ainda mais a água e os peixes. A poluição industrial da Votorantim Metais sempre esteve no cerne da contaminação das águas do Rio São Francisco. Por isso, os órgãos ambientais – os que não se vendem – exigiram a desativação da primeira barragem. Umas segunda foi construída pela empresa, mas de forma irregular, desrespeitando normas técnicas exigidas pelos órgãos ambientais. Continuou ocorrendo infiltração e a segunda barragem também foi reprovada. Em 2005, a empresa comprometeu-se em construir uma terceira barragem e cumprir mais 25 TACs – Termo de Ajuste de Conduta. A poluição continua, e não se tem informação sobre o cumprimento dos termos.

c) Relatórios e análises químicas de órgãos ambientais mostram que água, sedimentos e peixes apresentam índices alarmantes de contaminação por metais pesados, muitas vezes acima dos permitidos pelo Conama (Conselho Nacional de Meio Ambiente): zinco – 5.280 vezes; cádmio – 1.140; cobre – 32; chumbo – 42.

d) A CEMIG também foi denunciada pela abertura das comportas da usina de Três Marias para possibilitar os passeios turísticos do barco a vapor Benjamin Guimarães, e em época de outros eventos para camuflar a realidade do rio poluído, degradado e minguante. Com a súbita liberação das águas, muitas plantações dos vazanteiros são destruídas, e a consequência é mais fome.

A manifestação foi ostensivamente acompanhada pela Polícia Militar, que seguia a cartilha que lhe ordena a agir com truculência. Parou os 4 ônibus e revistou todas as pessoas e os pertences. No momento do trancamento da BR 040, policiais empurraram pescadores e Sem Terra, gritando e ameaçando com cacetetes. No Portão da empresa, a polícia impediu que fosse feito um piquete para tentar evitar a entrada dos trabalhadores. Já quase ao meio dia, após percorrermos muitas ruas da cidade de Três Marias, fomos “escoltados” até a sede do Sindicato dos Metalúrgicos, onde ficamos por um certo tempo sitiados.

Após tentar deter os militantes, os policiais foram alertados de que quem deveria ser presa era a Votorantim - pois está contaminando com metais pesados o rio São Francisco.

Belo Horizonte, 4/10/2009, dia de São Francisco de Assis, dia do rio São Francisco.

Frei Gilvander Moreira é mestre em Exegese Bíblica, assessor da Comissão Pastoral da Terra – CPT – e-mail: gilvander@igrejadocarmo.com.br – www.gilvander.org.br


Fonte: www.mst.org.br

CPT: "Mais uma vez mídia e ruralistas investem contra o MST"

Leia, abaixo, a nota divulgada nesta quarta-feira (7/10)

Mais uma vez mídia e ruralistas investem contra o MST

A Coordenação Nacional da CPT vem a público para manifestar sua estranheza diante do “requentamento” por toda a grande mídia de um fato ocorrido na segunda feira da semana passada, 28 de setembro, e que foi noticiado naquela ocasião, mas que voltou com maior destaque, uma semana depois, a partir do dia 5 de outubro até hoje.

Trata-se do seguinte: no dia 28 de setembro, integrantes do MST ocuparam a Fazenda Capim, que abrange os municípios de Iaras, Lençóis Paulista e Borebi, região central do estado de São Paulo. A área faz parte do chamado Núcleo Monções, um complexo de 30 mil hectares divididos em várias fazendas e que pertencem à União. A fazenda Capim, com mais de 2,7 mil hectares, foi grilada pela Sucocítrico Cutrale, uma das maiores empresas produtora de suco de laranja do mundo, para a monocultura de laranja. O MST destruiu dois hectares de laranjeiras para neles plantar alimentos básicos. A ação tinha por objetivo chamar a atenção para o fato de uma terra pública ter sido grilada por uma grande empresa e pressionar o judiciário, já que, há anos, o Incra entrou com ação para ser imitido na posse destas terras que são da União.

As primeiras ocupações na região aconteceram em 1995. Passados mais de 10 anos, algumas áreas foram arrecadadas e hoje são assentamentos. A maioria das terras, porém, ainda está nas mãos de grandes grupos econômicos. A Cutrale instalou-se há poucos anos, 4 ou 5 mais ou menos. Sabia que as terras eram griladas, mas esperava, porém, que houvesse regularização fundiária a seu favor.

As imagens da televisão, feitas de helicóptero, mostram um trator destruindo as plantas. As reações, depois da notícia ser novamente colocada em pauta, vieram inclusive de pessoas do governo, mas, sobretudo, de membros da bancada ruralista que acusam o movimento de criminoso e terrorista.

A quem interessa a repetição da notícia, uma semana depois?

No mesmo dia da ação dos sem-terra foi entregue aos presidentes do Senado e da Câmara, um Manifesto, assinado por mais de 4.000 pessoas, entre as quais muitas personalidades nacionais e internacionais, declarando seu apoio ao MST, diante da tentativa de instalação de uma CPMI para investigar os repasses de recursos públicos a entidades ligadas ao Movimento. Logo no dia 30, foi lido em plenário o requerimento para sua instalação, que acabou frustrada porque mais de 40 deputados retiraram seu nome e com isso não atingiu o número regimental necessário. A bancada ruralista se enfureceu.

A ação do MST do dia 28, que ao ser divulgada pela primeira vez não provocara muita reação, poderia dar a munição necessária para novamente se propor uma CPI contra o MST. E numa ação articulada entre os interesses da grande mídia, da bancada ruralista do Congresso e dos defensores do agronegócio, se lançaram novamente as imagens da ocupação da fazenda da Cutrale.

A ação do MST, por mais radical que possa parecer, escancara aos olhos da nação a realidade brasileira. Enquanto milhares de famílias sem terra continuam acampadas Brasil afora, grandes empresas praticam a grilagem e ainda conseguem a cobertura do poder público.

Algumas perguntam martelam nossa consciência:

Por que a imprensa não dá destaque à grilagem da Cutrale?

Por que a bancada ruralista se empenha tanto em querer destruir os movimentos dos trabalhadores rurais? Por que não se propõe uma grande investigação parlamentar sobre os recursos repassados às entidades do agronegócio, ao perdão rotineiro das dívidas dos grandes produtores que não honram seus compromissos com as instituições financeiras?

Por que a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), declarou, nas eleições ao Senado em 2006, o valor de menos de oito reais o hectare de uma área de sua propriedade em Campos Lindos, Tocantins? Por que por um lado, o agronegócio alardeia os ganhos de produtividade no campo, o que é uma realidade, e se opõe com unhas e dentes á atualização dos índices de produtividade? Por que a PEC 438, que propõe o confisco de terras onde for flagrado o trabalho escravo nunca é votada? E por fim, por que o presidente Lula que em agosto prometeu em 15 dias assinar a portaria com os novos índices de produtividade, até agora, mais de um mês e meio depois, não o fez?

São perguntas que a Coordenação Nacional da CPT gostaria de ver respondidas.

Goiânia, 7 de outubro de 2009

Coordenação Nacional da CPT


Fonte: www.mst.org.br

Cartaz da 4ª Festa dos/as Mártires da Caminhada Latino-Americana

"Mártires da Caminhada: Testemunhas de Vida e Missão"

4ª Festa dos/as Mártires da Caminhada Latino-Americana
Tema: “Mártires da Caminhada: Testemunhas de Vida e Missão”
11 de Outubro de 2009 – Santa Rita-PB


“Venham todos, cantemos um canto que nasce da terra,
canto novo de paz e esperança, em tempos de guerra.”
(Zé Vicente – CE)


Irmãos e Irmãs,
Companheiros e Companheiras,

Numa comunhão de afeto, memória e compromisso, nossos corações se enchem de alegria e de paixão para celebrarmos, neste próximo dia 11 de Outubro a 4ª Festa dos/as Mártires da Caminhada Latino-Americana. Esta Festa-Celebração é como uma semente lançada na terra, um dia ela brotará, regada com o sangue dos/as mártires, das santas testemunhas, de ontem e de hoje.

A Celebração iniciará as 19:00, as margens do Açude, e dará continuidade com uma pequena caminhada e Celebração até a Comunidade Santa Clara, no Bairro do Açude, em Santa Rita/PB.

Celebramos todos os/as mártires, de todas as religiões, de todas as Igrejas, da América Latina, de todos os sonhos e lutas da causa da vida, da justiça, da paz, que para nós são as Causas do Reino da Vida.

Para nós, o martírio é a expressão da nossa Caminhada, da Caminhada das CEBs, da Caminhada do Povo de Deus, pelos caminhos da América...!

A Festa dos/as Mártires da Caminhada Latino-Americana acontece desde 2006, em Santa Rita–Paraíba, no dia 11 de Outubro, para manter viva a memória de tantos e tantas mártires da América Latina e do Caribe, sacrificados/as particularmente ao longo destas décadas de ditaduras militares e das políticas neoliberais de exclusão e marginalização social.

Vivenciar em nós a mística pascal do martírio e assumir as Causas pelas quais tantos irmãos e irmãs deram, com sua morte, a prova maior, é um dos objetivos desta Festa-Memória Pascal.

-Temas:
*2006 – “Vidas pelo Reino da Vida”;
*2007 – “Mas se morre, produz muito fruto” (Jo 12,24b);
*2008 – “Mulheres e homens de fé, à serviço do Reino da Vida”;
*2009 – “Mártires da Caminhada: Testemunhas de Vida e Missão”.

-Comunidade no orkut – “Festa d@s Mártires – Santa Rita”: http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=39939484

-Fotos da 1ª Festa (2006) : http://picasaweb.google.com/ElsonCEBs/1FestaDosAsMRtiresDaCaminhadaLatinoAmericana#

-Fotos da 2ª Festa (2007) : http://picasaweb.google.com/ElsonCEBs/2FestaDosAsMRtiresDaCaminhadaLatinoAmericana#

-Vídeo da 2ª Festa (2007) : http://br.youtube.com/watch?v=57ytiv7NRik

-Sítio do Martirológio Latino-Americano : http://servicioskoinonia.org/martirologio/

-Blog “O Formigueiro” – www.formigueiroap.blogspot.com


'Façam isto em minha memória', nos pede Jesus em testamento. Façamos isto – que é doar a vida – em memória d'Ele e deles/delas: Guardando viva sua memória, assumindo atualizadamente suas causas, proclamando ativamente sua esperança.


“Vocês serão minhas testemunhas” (Jo 15,27)

Telefones para contato:
-Elson = (83) 3229-5401 ou (83) 8815-9042;
-Geziane = (83) 8898-9630;
-Fátima = (83) 8610-1117;
-Vanda = (83) 9115-2932;
-Sueli = (83) 8854-0583.