CEBs buscam a juventude e o diálogo ecumênico

Ecumenismo, juventude e missão. Três pontos fundamentais para o fortalecimento das Comunidades Eclesiais de Base e principalmente para a jornada de trabalho em defesa da vida, da ecologia e da fé. No segundo dia de coletivas de imprensa do 12º Intereclesial os convidados abordaram estes temas como alternativas para a criação de um novo modo de ver e agir dentro da sociedade.

Cláudio Ribeiro (pastor metodista), Dom Antônio Possamai (vice-presidente da Comissão da Amazônia da CNBB) e Leila Regina (assessora do Regional Leste 2) falaram da experiência de atuar nas CEBs e de como praticar a acolhida do ecumenismo e ouvir a juventude.

Leila Regina, que atua em Minas Gerais e faz parte do movimento de juventude, destacou que é preciso saber ouvir os anseios e questionamentos dos jovens para construir um novo mundo. “Nossa missão é criar novas lideranças e renovar as ações na CEBs. É preciso educar para a vivência da fé e da luta por dias melhores e uma sociedade mais justa”, comentou.

Já dom Antônio, ao falar desta criação de novas lideranças, lembrou que as comunidades eclesiais foram sufocadas e perseguidas pelo regime militar no Brasil. “Agora é preciso educar os jovens a pensar criticamente, a ter uma visão de mundo globalizada e voltada para a defesa dos interesses sociais, pois hoje uma multidão de pessoas se organiza em volta de pensamentos consumistas e que em nada contribuem para o resgate do social”, destacou.

Já o pastor Cláudio Ribeiro falou da experiência do ecumenismo nas CEBs. Ele acredita que não há como agir e vencer desafios de forma isolada ou excludente. “As CEBs são voltadas para o social e neste campo precisamos de união. É preciso voltar as primeiras comunidades criadas no Brasil, que fundamentalmente eram ecumênicas e mesmo com várias religiões diferentes os resultados surgiam de forma impressionante. “A realidade que vivemos exige esta participação pluralista e aberta a receber a colaboração de todos. Os desafios são imensos e cada força será essencial nesta batalha por justiça social”, defendeu.

A missão de atuação das CEBs é baseada no modelo de vida em defesa da fé e da preservação da ecologia como ponto fundamental para a Amazônia. Dom Antônio destacou que o sistema de governo incentivou a migração para esta região como se aqui não houvesse povos integrados ao meio ambiente.

“Após a invasão da soja no sul e eucalipto no sudeste, o governo iniciou a dita ocupação e promoveu a derrubada da floresta amazônica. Em Rondônia, o modelo de posse da terra criou um imenso vazio no meio da mata”, lembrou dom Antônio.

A Amazônia ocupada e devastada sempre contou com líderes formados nas Comunidades Eclesiais de Base e sua atuação firme e comprometida evitou muitos danos a esta região. “Se a atuação do povo da igreja não é vista de forma explícita, é sentida de maneira concreta na certeza de que se não fossem os gritos e lutas, este cenário seria muito pior”, completou.

O papel das CEBs tem sido debatido durante este 12º Intereclesial e entre os pontos fundamentais está a defesa da vida, da fé e da ecologia. A juventude se apresenta como arma essencial para vencer desafios, aliado à experiência de líderes que na década de 60 pensaram na luta por um mundo melhor.


Fonte: www.cebs12.org.br
Foto: Hiara Ruth

CEBs rezam com os povos indígenas

Os três mil participantes do 12º Encontro Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) lotaram o ginásio do SESI, em Porto Velho, na manhã desta quarta-feira, 22, para a oração da manhã que abriu o primeiro dia de atividades do evento. Conduzida pelos indígenas Guarani, do Mato Grosso do Sul, a oração foi acompanhada com atenção e fé pelo público.

“O que fizemos aqui, não foi um momento cultural, mas um ato de respeito e de espiritualidade, com Deus, no Espírito Santo”, disse, ao final da oração, o cacique da aldeia Tupã, no rio Tapajós, Flávio Silvio Rodrigues.

“Estamos aqui, indígenas da Amazônia, para dar testemunho de que também nós somos pessoas humanas”, afirmou o cacique, que condenou a perseguição contra indígenas e outros povos da Amazônia. “Sempre fomos perseguidos por causa de nossas terras. É dela que sobrevivemos. Sem nossa mãe terra, não podemos viver!”, protestou.

Muito aplaudido, Rodrigues deixou um forte testemunho da crença dos povos indígenas. “Vocês não estão aqui por acaso, mas vieram buscar vida. Só com Deus podemos viver. Nosso ritual foi neste sentido. Vamos levar o apoio de nosso pai Tupã a todos os povos”, concluiu.

Programação: Terminada a oração, os participantes do Intereclesial foram divididos em 12 grupos de 250 pessoas cada um. Os grupos passarão a tarde reunidos nas escolas da cidade debatendo o tema do dia: “Grito profético da terra e dos povos da Amazônia, símbolos da humanidade”.

Cada grupo é acompanhado por uma equipe de assessores que fazem introdução ao tema e subdivide o grupo em 12 pequenos grupos para aprofundamento das questões. A partir das 15h (16h horário de Brasília), haverá plenária com a apresentação dos trabalhos feitos nos pequenos grupos.

Às 16h (horário local) todos os participantes do Intereclesial se encontrarão para dar início a "Caminhada dos mártires", que seguirá para a capela Santo Antônio, onde haverá também uma celebração penitencial. Nesta comunidade, está sendo construída a usina hidrelétrica Santo Antônio.


Fonte: www.cebs12.org.br

Fé e alegria na celebração de abertura do 12º Encontro Intereclesial de CEBs em Porto Velho/RO

“Como irmãos e irmãs, unindo nossa voz ao grito da terra e das águas, no sopro do Espírito, declaramos aberto o 12º Intereclesial”.

Foi com estas palavras, sob o aplauso entusiasmado de uma multidão, que o arcebispo de Porto Velho (RO), dom Moacyr Grechi, declarou, solenemente, aberto o 12º Encontro Intereclesial das CEBs, maior encontro das Comunidades Eclesiais de Base que a Igreja Católica realiza no Brasil desde 1975.

A cerimônia de abertura constou de uma celebração realizada na noite desta terça-feira, 21, na praça Madeira Mamoré, na capital de Rondônia, e contou com a presença de mais de 4 mil pessoas. Nem mesmo o cansaço de dias nas estradas até chegar a Porto Velho, inclusive com ônibus quebrando no caminho, tirou o ânimo das lideranças que vieram de todos os estados do país como delegados para o encontro. No altar, indígenas, negros, seringueiros ficaram ao lado de vários bispos.

Dom Moacyr acolheu os participantes e destacou a importância do encontro debater o tema da Amazônia. “Amazônia é sempre, na história, tratada como colônia e vocês dirão a todos que a Amazônia quer ser irmã e ser tratada com dignidade”, disse recebendo a aprovação da assembleia que aplaudiu efusivamente. “Os índios devem ser respeitados, os seringueiros devem ter onde trabalhar, nossa cidade precisa ser humanizada. O grito da Amazônia repercutirá como o grito da esperança”, completou.

Fé e alegria
O ritmo da Amazônia na celebração de abertura do 12º Intereclesial das CEBs deu o tom de como será o encontro que reúne 3 mil pessoas até sábado em Porto Velho. Na assembleia, pessoas vestindo camisetas do Intereclesial, lenços no pescoço, chapéu, mochilas e faixas não pararam de cantar e dançar aguardando o início da oração, marcada também por muita música, dança e símbolos. Tudo levava as pessoas à interiorização e à meditação, mesmo em meio ao ritmo forte de flautas, tambores e outros instrumentos musicais.

Todos se emocionaram, por exemplo, ao ouvir, de velas acesas, um coro de crianças entoar “curupira”. “O dia está escurecendo, será que não vai voltar. Se ele não chegar logo, vou mandar lhe procurar, vou levar uma lamparina pra poder alumiar”, diz o canto.

Outro momento que chamou a atenção do povo foi a benção da água com a qual todos foram aspergidos. Igualmente, a bênção e distribuição de milhares de bombons, produzidos com frutas da região, emocionou a multidão.

“O 12º Encontro das CEBs começou muito bem com esta celebração que foi linda e muito participada. Este encontro é especial não só ser na Amazônia, mas também pelo que exigiu de todos que vieram aqui’, disse o arcebispo emérito da Paraíba, dom José Maria Pires.

“Vim presenciar este evento e gostei da celebração, esta harmonia de vários pensamentos, todos voltados para a mesma fé, em busca de luz e não há luz maior que tenha passado pela terra a não ser Jesus Cristo”, disse Ras Uilivan, de Porto Velho, que não é católico, e diz pertencer ao cristianismo ortodoxo da Etiópia.


Fonte: www.cebs12.org.br

Povos indígenas presentes ao 12º Intereclesial

Mais de 80 representantes dos povos indígenas de tribos, não só da Amazônia como de todo o Brasil, estão presentes ao 12º Intereclesial. Eles começaram a chegar desde a semana passada e estão alojados na Escola Municipal São Miguel, na periferia de Porto Velho.

Homens, mulheres, crianças, com corpos pintados e enfeites na cabeça, representam 38 povos diferentes e falam diversas línguas. Os que não comunicam em suas línguas ou em português se relacionam, através da linguagem do amor e do respeito. Uma sabedoria que exercitam no seu cotidiano, nas matas e nos rios, diante dos animais e das diferentes árvores, onde sempre conviveram em harmonia.

As salas de aula se transformaram em dormitórios, masculinos e femininos, mas as redes, onde a maioria prefere dormir, estão espalhadas pelas varandas e embaixo das árvores – espaço do recreio das crianças da escola.

Esta idéia de reunir os índios num mesmo espaço está sendo coordenada pelo CIMI (Conselho Missionário Indigenista) e já foi experimentada com sucesso durante o Fórum Social Mundial no início do ano, em Belém do Pará.

Na tarde de segunda feira, depois da sesta, os índios receberam um grupo de jornalistas representantes do Porantim, da revista Missões e do Verbo Divino – responsável pelo DVD do 12º Intereclesial. Uma grande roda foi formada no ambiente fresco à sombra de quatro enormes fícus.

Na parede, as faixas ilustravam o objetivo da luta dos nossos indígenas: “Não queremos construções de barragens ou rodovias próximas as nossas terras”, “Preservação sim e desenvolvimento sustentável para as próximas gerações”, “Terra, resistência, luta”.

Uma celebração iniciou com hinos e danças da caminhada e de matriz indígena. Depois as apresentações, o acolhimento com palmas carinhosas, e uma pequena mostra da arte musical de nossos irmãos indígenas: música tocadas com flautas de mais de metro, outras menores feitas com chifre de boi, outras de tamanho médio combinando a longa com a curta, além de som dos tambores a partir de troncos ocos. A celebração terminou com um solo de flauta de madeira semelhante às usadas pelos indígenas da Bolívia e do Peru.

Uma irmã do CIMI explicou que os índios que vivem nas fronteiras com os países latino americanos não reconhecem essas linhas que dividiram seus povos.

Durante todo o Intereclesial esses índios estarão participando das celebrações e dos debates, espalhados pelos 12 diferentes grupos, que receberam nomes dos rios da Amazônia. Ao lado dos quase 300 delegados de todo o Brasil, eles estarão reunidos nas escolas, sob a coordenação de 12 paróquias e igrejas de Porto Velho, para discutir os grandes temas desse encontro: “Cebs, ecologia e missão”. E mostrar com sua própria vida e história de seus povos como “do ventre da terra, pode-se ouvir o grande grito que vem da Amazônia".


Fonte: www.cebs12.org.br