DOM JOSÉ MARIA PIRES E A CONSCIÊNCIA NEGRA


“(...)Pretos, meus irmãos! Como nossos antepassa­dos, viemos de vários lugares. Diferentes deles e menos puros do que eles trazemos na pele colorações variadas. Na alma, crenças diferentes. Mas neles e em nós estão presentes e são indelé­veis as marcas da negritude. Somos negros e não nos envergonhamos, não queremos mais nos envergonhar de sê-lo.”

“Brancos, nossos amigos! Conosco vos reunis. Descendentes embora dos que nos humilharam e torturaram nossa raça, viestes hoje nos aplaudir. Não sendo negros, vos mostrais solidários com nossa causa e não quereis ver prolongadas em nós as conseqüências nefastas da escravidão que oprimiu nossos avós.”

“(...) Mais longa que a escravidão do Egito, mais dura do que o cativeiro da Babilônia foi a escravidão do negro no Brasil. (...) Houvesse a Igreja da época marcado presença mais na Senzala do que na Casa Grande, mais nos Quilombos do que nas Cortes, outros teriam sido os rumos da His­tória do Brasil. Desde os seus primórdios, outra teria sido a contribuição do negro ao desenvol­vimento porque, mesmo desenraizado de seu povo e de sua terra, mesmo reduzido ao cativeiro (...), conservou em si forças de aglutinação e de pre­servação de seus valores originais (...)”.


(Trechos da Homilia na 1ª Missa dos Quilombos – Recife – PE – 1981)

NEGRITUDE: QUESTÃO DE CONSCIÊNCIA!

O Compromisso das CEBs com a causa afro-brasileira

A caminhada das CEBs no Brasil tem sua história com o povo negro. Não podia ser diferente, pois os negros e negras estão nas CEBs. A partir do momento em que negros e negras iniciaram o processo de descoberta e afirmação de sua identidade, passaram a ser uma nova presença que transformou em muitos aspectos a caminhada das comunidades. As CEBs foram o berço que acolheu o nascimento de vários grupos de negros e negras.

O compromisso com a causa negra é parte do compromisso com a vida e luta pelos direitos humanos e sociais assumidos pelas CEBs. Assumir a causa negra é lutar contra todo tipo de escravidão e discriminação. É assumir as lutas de libertação negra. Desde a saída da África e chegada ao Brasil, negros e negras, a partir de sua vivência da fé, buscaram formas solidárias de enfrentar os sofrimentos, estratégias de libertação e projetos comunitários de construção social. Os Quilombos, Irmandades e Terreiros representam lugar de encontro da comunidade negra, lugar de resistir ao sistema, de alimentar os sonhos de liberdade e recriar a vida.
Alguns compromissos:
- Reconhecer a presença de negros e negras no interior das CEBs;
- Acabar com o racismo na prática eclesial;
- Vencer os preconceitos que impedem de ver a presença do novo na negritude;
- Reconhecer a contribuição e o enriquecimento dos valores negros na vida eclesial, sobretudo na liturgia.

(Resumo feito a partir do artigo de Sílvia Regina, no Texto-base de preparação para o 10º Encontro Intereclesial das CEBs – Ilhéus – BA – 2000).