Equipe da SEDH vem a Paraíba investigar crimes contra militantes de Direitos Humanos

Na Paraíba, técnicos analisarão cinco casos de ameaças contra militantes, todos sob sigilo

Seis representantes da Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH) da Presidência da República foram recebidos pelo secretário da Segurança e da Defesa Social (SEDS), Gustavo Ferraz Gominho, na tarde desta quarta-feira (27).

O encontro aconteceu na sede da pasta e teve como pauta o acompanhamento de crimes contra defensores dos direitos humanos ocorridos na Paraíba, como ameaças contra militantes, inclusive cerceamento dos direitos do cidadão.

Segundo Ivan Contente Marques, coordenador geral de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos da SEDH, o grupo, que conta com técnicos, advogado e sociólogo, tem como objetivo percorrer diversos Estados brasileiros e na Paraíba ainda visitará órgãos como Ministério Público e Procuradoria Geral. “Estaremos aqui até esta sexta-feira (29) e cuidaremos de cinco casos de crimes contra militantes dos direitos humanos, todos sob sigilo”, revelou o coordenador.

De acordo com o secretário Gustavo Gominho, a Gerência de Inteligência (Gintel) da SEDS será responsável por averiguar o andamento das investigações desses crimes na Paraíba. “Saberemos o que foi realizado até agora, ao mesmo tempo em que daremos o apoio que for preciso à SEDH da Presidência da República e pediremos a atenção especial dos delegados responsáveis pelo andamento dos inquéritos”, frisou o secretário.


Fonte: www.paraiba.pb.gov.br

Família de advogado morto na Paraíba teme ameaças e espera federalização de processo

O fim do recesso do Poder Judiciário poderá trazer uma solução para os parentes do advogado Manoel de Bezerra Mattos Neto, morto há um ano no município de Pitimbu (PB), próximo à capital João Pessoa, que aguardam a federalização do processo. A expectativa é que antes do carnaval (12 de fevereiro) o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decida pela federalização e que o julgamento dos envolvidos se dê na instância superior.

Manoel Mattos foi vereador pelo Partido dos Trabalhadores (PT), era um defensor dos direitos humanos e atuava contra grupos de extermínio da região de fronteira entre a Paraíba e Pernambuco.

Para a mãe do ex-vereador, Nair Ávila, a justiça local não tem condições de fazer um julgamento correto. "Só a federalização vai levar os culpados para a cadeia”, disse.

O advogado da família, Aristides Joaquim Felix Júnior, afirma que dona Nair tem sido alvo de perseguição.

Segundo o advogado, além dos parentes ameaçados, uma testemunha de acusação foi agredida cerca de quatro dias depois de prestar depoimento à Justiça em Itambé (PB), no dia 11 de janeiro.

Aristides Junior também espera a federalização. “Aqui falta estrutura para tocar o processo”, disse alegando que não há no interior da Paraíba meios para proteger as testemunhas.

O advogado também desconfia que haja envolvimento de autoridades locais com o crime. “Se a federalização se concretizar, vai chegar a essa conclusão”, assinala.

A possibilidade de federalização está prevista na Emenda Constitucional nº 45 (2004) que normatiza o instrumento jurídico que o procurador-geral da República aciona para assegurar o cumprimento de tratados internacionais de direitos humanos e transfere a competência do julgamento ao STJ, em qualquer fase do inquérito ou processo.

O deslocamento do caso Manoel Mattos foi pedido em 23 de junho de 2009 pelo então procurador-geral Antônio Fernando de Souza. A relatora do processo é a ministra Laurita Vaz, da 3ª Seção do STJ.

Para o diretor de Defesa dos Direitos Humanos, da Secretaria Especial de Direitos Humanos (SEDH) da Presidência da República, Fernando Matos, o caso “preenche todos os pré-requisitos" para ser federalizado.

De acordo com ele, trata-se de um “crime transfronteiriço” pois investigam-se ocorrências e acusados em cidades da Paraíba e de Pernambuco e os governadores dos dois estados apoiam a federalização. Ainda segundo ele, Manoel Mattos era uma figura nacional, ativista dos direitos humanos com colaborações em mais de uma Comissão Parlamentar de Inquérito do Congresso Nacional sobre questões ligadas aos direitos humanos.

Recentemente a seccional pernambucana da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PE) encaminhou ofícios à SEDH, ao Ministério da Justiça e ao STJ reforçando o pedido de federalização do caso. Segundo nota da OAB, “a gravíssima situação de ameaça aos familiares relatada durante a audiência em Itambé mostra que a federalização do caso é urgente”.

Dos cinco acusados do crime, entre mandantes e executores, três estão presos e dois foram soltos. O caso de Manuel Mattos é o segundo a ter pedido de federalização. O primeiro foi o processo da missionária Dorothy Stang, morta em fevereiro de 2005. À época a Justiça negou a federalização.


Fonte: www.agenciabrasil.gov.br

Nota de Solidariedade do Grito dos/as Excluídos/as Continental ao Povo Haitiano

¡El Grito de dolor y por justicia del pueblo haitiano es también nuestro grito!

La Secretaría del Grito de los Excluidos/as Continental, se une a las muchas de voces de solidaridad con el pueblo haitiano que se levantan por el continente americano y por el mundo todo, frente a la magnitud del terremoto del pasado 12 de enero que ha destruido Puerto Príncipe y otras ciudades de nuestra hermana nación caribeña. Expresamos nuestro más profundo dolor por la suerte de las miles de víctimas y damnificados/as en esta hora trágica.

En medio del dolor y la angustia que marcan el momento y de las tareas urgentes para salvar vidas y socorrer heridos (as) , es importante que los movimientos sociales y organizaciones civiles exijan de la llamada “comunidad internacional”, una acción rápida y decidida de corto, mediano y largo plazo para la reconstrucción de Haití. No podemos olvidar que la precarísima situación social haitiana, de donde se deriva realmente la gigantesca magnitud de esta catástrofe, es resultado de dos siglos de violento colonialismo, intervenciones militares y despojo social y económico que han llevado a nuestro hermano país a ostentar el triste título del “país más pobre de las Américas”, todo lo cual se ha agravado en las últimas dos décadas con la aplicación salvaje de los programas de ajuste neoliberal en la economía y sociedad haitinana y con el mantenimiento de una deuda externa ilegítima que sangra los recursos de la nación, con la devastación del medio ambiente y de la agricultura y con la imposición de los intereses de las compañías transnacionales.

Las grandes potencias colonialistas (Francia y Estados Unidos, en destaque) que han empobrecido y violentado a la sociedad haitiana durante siglos, tienen una responsabilidad directa e ineludible no solo de socorrer a las víctimas del terremoto, sino de canalizar recursos suficientes para la reconstrucción del país, respetando de una vez por todas la soberanía y la autodeterminación haitianas. En lo sucesivo, se impone una responsabilidad histórica para los gobiernos de esas potencias y de los países latinoamericanos, que no puede limitarse a la donación pasajera de recursos para las tareas de socorro. Reconstruir Haití tendría costos infinitamente menores que los usados para la reconstrucción de Europa tras la II Guerra Mundial y serían una fracción ridículamente pequeña de los gastos militares de Estados Unidos y otros países que mantienen onerosas estructuras militares en funcionamiento. Además, dicha reconstrucción no puede hacerse, bajo ninguna circunstancia, de forma que perpetúe el control colonial sobre Haití imponiendo nuevas condiciones y nuevas deudas sobre dicha nación.

Finalmente, es necesario mantener en alto la lucha por la reparación histórica y anulación de la deuda externa que pesa sobre Haití, así como alertar ante los previsibles intentos que vendrán por legitimar la intervención militar de la MINUSTAH, que ahora pretenderá presentarse como la única fuerza capaz de contribuir a la atención de la crisis post-terremoto. Debemos seguir insistiendo en la ilegitimidad de esa fuerza de ocupación instalada en el país desde el 2004 y que ha contribuido en muy poco al mejoramiento de la situación política y social del país.

No es menos importante que las organizaciones y movimientos recaudemos fondos y materiales de primera necesidad que puedan ser enviados a Haití de forma urgente; asimismo, canalizar recursos y acciones de solidaridad a través de los canales que han indicado organizaciones como Jubileo Sur y PAHDA, que están en el lugar de los hechos y que pueden ayudar a identificar las necesidades y la mejor forma de hacer llegar estos esfuerzos solidarios.

Nos unimos también al dolor por el fallecimiento en Haití de la señora Zilda Anrs, fundadora de la Pastoral das Crianças en Brasil, cuyo legado de amor y lucha seguirá vivo entre nosotros y nosotras por siempre.

Sao Paulo, Brasil, 15 de enero 2010
Secretaría Grito de los Excluidos/as Contienental
¡Por Trabajo, Justicia y Vida!

Irmã Geraldinha - Marcada para morrer

Geralda Magela da Fonseca, a irmã Geraldinha, pode ser a próxima vítima do terror imposto pelos latifundiários que querem impedir o avanço da reforma agrária no Vale do Jequitinhonha, uma das regiões mais pobres do país. A única plantação de alimentos que existe em Salto da Divisa é a do acampamento do MST. No restante das terras, só capim e poucos bois.

A luta pela terra no Brasil ainda representa risco de morte para quem defende sua divisão. Reforma agrária são duas palavras que quando conjugadas se tornam malditas nos rincões controlados pelo latifúndio. O poder dos coronéis é lei nesses lugares. Domina tudo: desde a política local à rádio que veicula as notícias. Tudo, absolutamente tudo, é subjugado à lógica de uma oligarquia rural que atravessou séculos intacta e permanece com praticamente a mesma força discricionária do passado.

A pequena Salto da Divisa, município localizado no nordeste mineiro do Vale do Jequitinhonha, é o exemplo gritante dessa realidade. Latifúndio e terror se conjugam contra aqueles que ousam se levantar em defesa da reforma agrária. O pavor de retaliações fez com que vários entrevistados pedissem para não ter os nomes revelados. A reportagem acatou a solicitação e decidiu atribuir nomes fi ctícios a todos os entrevistados ligados ao MST, menos a Geralda Magela da Fonseca, a irmã Geraldinha, ameaçada de morte pelo latifúndio.

A freira dominicana que vive há mais de três anos no acampamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) Dom Luciano, onde residem 75 famílias, se transformou no alvo preferencial dos latifundiários. É dela a principal voz que se ergue para denunciar as arbitrariedades dos donos da terra na região. A atitude corajosa rendeu a ira dos que teimam em perpetuar a situação de injustiça.

Irmã Geraldinha convive há meses com o medo de ser assassinada a qualquer momento. No princípio, as ameaças chegavam pelo celular. Em um único dia, recebeu três ligações no aparelho. Do outro lado da linha, a pessoa não identifi cada transmitia sempre a mensagem de morte. O terrorismo psicológico fez com que a freira quebrasse o chip do celular. Agora poucos possuem seu novo número, e as ameaças deixaram de ser feitas por via telefônica. Chegam por companheiros que moram no acampamento e que ouvem dizer na cidade que ela está marcada para morrer.

No latifúndio brasileiro, ameaça de morte é quase a certeza de concretização. Foi assim com Chico Mendes, irmã Dorothy Stang, Margarida Maria Alves e tantos outros que tombaram na luta por justiça social no campo. Como nos outros casos, o medo não afugentou a freira da resistência aos poderosos. Apenas a fez mudar seus hábitos Irmã Geraldinha não repete, por exemplo, o pernoite no mesmo barraco. Alterna o sono em vários locais dentro do acampamento, para impedir que o inimigo invada sua casa e a torne presa fácil da morte. A reportagem de Caros Amigos acompanhou a via crucis da freira durante quatro dias. Dividiu com ela, inclusive, os mesmos barracos.

Estado de tensão
Um acontecimento em particular deixou a freira temerosa de que um eventual atentado pudesse ocorrer. Era noite, e a informação de uma companheira do acampamento, que havia visto um feixe de luz vindo do mato próximo do local onde foram erguidos os barracos, deixou a irmã Geraldinha apreensiva. Olhares mais atentos não identifi caram o alerta, mas também não conseguiram tranqüilizar a irmã. Qualquer barulho do lado de fora do barraco era motivo para um sobressalto sobre o colchão.

A ausência de iluminação, o único ponto de energia elétrica no acampamento é o do centro comunitário que também é a única construção em alvenaria, joga contra a segurança dela. A noite sem luar torna o ambiente sombrio. Nos barracos, com paredes feitas de folhas de coqueiro ou de taipa (barro prensado entre canas de bambu) e cobertura com a tradicional lona preta, apenas a luz das velas, que se acendem e se apagam rapidamente para neutralizar o alvo de possíveis ataques.
O esquema de segurança do MST no acampamento foi reforçado desde que a freira passou a sofrer ameaças. Na entrada do acampamento da Fazenda Manga do Gustavo, localizada a aproximadamente 6 km da cidade, uma corrente de ferro impede a passagem dos carros que se aproximam. Ali, há sentinelas 24 horas por dia. Mas os únicos instrumentos de proteção de que os vigilantes dispõem para combater uma eventual invasão de agressores são alguns foguetes, que serão prontamente disparados para mobilizar os companheiros que vivem no acampamento e atrair a atenção da polícia na cidade.

As mulheres participam do turno das 6h às 18h, os homens assumem a partir das 18h e vão até a manhã do dia seguinte. De uma em uma hora, o turno é trocado. Ninguém passa pela portaria sem a autorização da segurança, mas as condições geográficas da área não ajudam no trabalho. Por se tratar de uma fazenda, há inúmeros pontos vulneráveis dos quais os possíveis assassinos podem se valer, para chegar a pé ao local.

À noite, a segurança é reforçada por uma equipe de 24 homens que cuidam da vigilância da área. Além da portaria, uma ronda percorre o acampamento com lanternas para verifi car se não há invasores que coloquem em risco a vida da freira. A segurança dos companheiros que dividem o acampamento com ela é a única proteção que irmã Geraldinha tem durante a noite. De dia, além da segurança dos sem-terra, a Polícia Militar também vai ao acampamento, de duas a três vezes, conversa com a religiosa e retorna à cidade.

“A nossa proteção é de 24 horas”, frisa Daniel Monteiro, chefe da segurança do acampamento, para destacar a importância do trabalho desempenhado pelos acampados na proteção à freira.

O comando do policiamento militar da cidade foi trocado recentemente. O sargento Clóvis Bonfim de Morais é o novo responsável pela área. Veio do município de Teófilo Otoni e traz no braço o brevê de direitos humanos. “Só quem tem muita formação na área (de direitos humanos) usa o brevê”, comenta. A Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República interveio para mudança no policiamento em Salto da Divisa, segundo o coordenador do Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos, Fernando Matos.
Antes, o poder fardado não falava em direitos humanos e era caudatário dos interesses do latifúndio. Nem mesmo o ataque de um grupo que tentou incendiar o acampamento do MST demoveu os policiais de uma ação contrária aos acampados.

Rotina de ameaças
“Hoje vou comer bolo na sua casa”, dizia a voz de um homem que se identificou como Ilton Guimarães, ex-vereador e muito próximo aos latifundiários da cidade. Ele ligou para o celular da acampada Cristina Soares, no dia 27 de julho, um dia após a eleição para a Prefeitura de Salto da Divisa e que deu a vitória a Ronaldo Athayde da Cunha Peixoto (DEM). A eleição aconteceu fora de época devido à cassação pelo TRE do prefeito anterior. Ronaldo faz parte de uma das duas famílias que dominam as terras da região.

O número oculto registrado no identificador de chamadas impediu que Cristina soubesse de onde partira a ligação. A frase, aparentemente sem sentido, ganharia lógica no dia seguinte, 28 julho. Um grupo de quatro homens, em um carro, atearia fogo no acampamento do MST. O incêndio foi detectado a tempo pelos acampados e não se propagou.

Dentro do automóvel, estavam Ilton Ferreira Guimarães, Paulo Roberto Inácio da Silva, seu filho Daniel Salomão Silva e Genilton Menezes Santos, cunhado de José Alziton da Cunha Peixoto, primo do prefeito eleito e presidente da Fundação Tinô da Cunha, a quem pertencem as terras da Fazenda Manga do Gustavo, onde estão acampados os sem-terra, além da Fazenda Monte Cristo, que os trabalhadores rurais haviam ocupado inicialmente e onde pretendem ser assentados pelo Incra.

Paulo Roberto é o locutor da Rádio Aracuã, controlada pela família Cunha Peixoto. A rádio é uma das trincheiras de ataque da família contra a freira e o MST. Irmã Geraldinha é chamada de bruxa por Paulo Roberto. Ele também xinga as mulheres sem-terra de vagabundas, além de afirmar que o acampamento é local de prostituição.

A conivência do antigo policiamento com a prática truculenta dos latifundiários se evidenciou na condução do caso. Os policiais demoraram horas para atender ao pedido de socorro, segundo relato dos acampados. Além disso, quando chegaram, inverteram a situação contra os sem-terra, que de vítimas, passaram a réus. O boletim de ocorrência registrado pelos policiais militares coloca a freira, que nem estava no local no momento do incidente, como sendo responsável por seqüestro e cárcere privado dos quatro homens.

Para desfazer a mentira, irmã Geraldinha teve de viajar 50 km até Jacinto, cidade mais próxima a Salto da Divisa, com delegacia de polícia, para registrar um boletim de ocorrência relatando o que de fato havia ocorrido. Mas o município de Jacinto não está imune ao poder da família Cunha Peixoto. O Fórum da cidade carrega o nome do pai de José Alziton da Cunha Peixoto.

A pressão contra a freira se intensifi cou a partir de 28 de outubro, logo após a realização de uma audiência contra o falso boletim de ocorrência da PM, que a transformava em sequestradora. No dia 30, um automóvel marca Corsa aparece próximo à entrada do acampamento. Nesse dia, a freira estava na cidade e voltaria sozinha de ônibus para o acampamento. Desceria na estrada e enfrentaria uma longa caminhada até os barracos. Certamente cruzaria com o carro que estava na tocaia. Mas o frei capuchinho Emílio Santi Piro, padre da cidade, achou perigoso ela voltar de ônibus e emprestou o seu carro. A solidariedade cristã permitiu que ela cruzasse o ponto de encontro, antes que o veículo que esperava por ela chegasse. Quando irmã Geraldinha recebeu um telefonema informando que um carro estava na tocaia à sua espera, ela já estava no acampamento.

O mesmo veículo foi visto posteriormente na cidade: o motorista queria saber se a irmã estava no município. Na sequência, em 1º de novembro, a freira recebeu os três telefonemas a ameaçando de morte e resolveu quebrar o chip para atenuar a tormenta.

Pelo menos dois homens que já ameaçaram a freira várias vezes são conhecidos: são dois exsem- terra que foram expulsos do movimento pelos acampados porque eram violentos. Admilson e Caboclo passaram a trabalhar na administração do prefeito Ronaldo. Um é fiscal da varrição de ruas, o outro vigia em uma escola.

Coronelismo
José Alziton é outro que persegue os sem-terra desde o primeiro dia em que o acampamento foi formado. Irmã Geraldinha conta que logo após os sem-terra terem realizado a ocupação, Alziton apareceu na fazenda com duas armas na cintura, fazendo questão de mostrá-las e gritando que aquela fazenda era sua. “Quem mandou vocês entrarem, isso aqui é meu!”, afirmava, furioso. Ao que os sem-terra respondiam em coro: “MST, a luta é pra valer”.

Alziton não é o dono da fazenda ocupada. Ele presidia, até maio deste ano, o conselho da Fundação Tinô da Cunha, proprietária da Fazenda Manga do Gustavo e Monte Cristo, mas foi afastado do cargo por má administração. Em seu lugar, o Ministério Público nomeou um interventor. Além de Alziton, o prefeito Ronaldo também fazia parte do conselho da Fundação.

Os recursos gerados pelas duas fazendas, e por mais três propriedades que pertencem à Fundação deveriam custear os gastos do único hospital da cidade que atendia à população. Os recursos desapareceram e aproximadamente 2 mil cabeças de gado sumiram do pasto. As dívidas com o INSS atingem a cifra de quase 2 milhões de reais, segundo o promotor de Justiça da Comarca de Jacinto, Bruno César Medeiros Jardini. “O hospital era utilizado para fazer política, angariar votos, mas o atendimento era precário”, critica o promotor.

O hospital praticamente fechou as portas, só atende casos de urgência. O prefeito não revela para a reportagem que fazia parte do conselho da Fundação Tinô da Cunha, responsável pela administração do hospital. Antes da eleição que o levou ao cargo de prefeito, o primo José Alziton chegou a encaminhar petição ao juiz da Comarca de Jacinto para se manter à frente da Fundação, argumentando que a posse de Ronaldo reduziria o problema financeiro do hospital. O prefeito Ronaldo nega à Caros Amigos que pretenda destinar recursos da prefeitura para o hospital.

No entanto, ele tentou confundir a reportagem ao afirmar que a prefeitura pagava o salário de três médicos que atendiam no hospital. “O hospital está funcionando porque a prefeitura está pagando três médicos.” Na verdade, os médicos pagos pela prefeitura não atendem no hospital, mas na unidade básica de saúde. “Ficam de plantão no celular”, reconhece o prefeito. Ele não sabe explicar como ocorre a convocação dos médicos pelo celular, quando alguém passa mal. O hospital só atende casos de urgência. O prefeito nem ao menos sabe quantos enfermeiros trabalham no local. “Saúde é uma coisa muito cara”, afirma o prefeito, que tem um salário mensal de 8 mil reais.


Fonte: www.cptnac.com.br

CONCLAT - Conferência definirá projeto político da classe trabalhadora

Em reunião histórica para o sindicalismo brasileiro, as Centrais Sindicais CUT, Força Sindical, UGT, CTB e Nova Central decidiram, durante encontro na última quinta-feira (21/1), em São Paulo, convocar uma nova Conferência Nacional da Classe Trabalhadora (Conclat), que será realizada no dia 1º de junho.

No evento, que ocorrerá pela segunda vez na história recente do País - a 1ª Conclat foi há 29 anos, de 21 a 23 de agosto de 1981 - as centrais esperam reunir mais de 10 mil lideranças sindicais, para debater e aprovar um documento de propostas e definir de forma unitária o apoio a um candidato à presidência da República comprometido com o progresso e a ampliação das conquistas sociais.

"A Conferência será o momento de apontarmos coletivamente um conjunto de diretrizes, com a visão da classe trabalhadora, que as Centrais vão debater em todos os Estados. Será um instrumento de mobilização e ação sindical que contribuirá no processo eleitoral, demarcando campo com a
direita", afirma o presidente da CUT, Artur Henrique.

40 horas - As Centrais também decidiram realizar uma manifestação unificada no Congresso Nacional, dia 2 de fevereiro, em Brasília, em defesa da redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais, sem redução de salários.

"Queremos que a proposta seja votada ainda neste primeiro semestre", destaca o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (Paulinho).
Cerca de 300 dirigentes das Centrais, Confederações, Federações e Sindicatos estarão na abertura dos trabalhos do Congresso, para pressionar os parlamentares a inserir a emenda Constitucional (PEC 231/95) que trata da jornada na pauta de votação do plenário da Câmara.

O presidente da CTB, Wagner Gomes, avalia que a convocação da Conclat vai elevar o protagonismo da classe trabalhadora na vida política nacional, além de potencializar sua influência nas eleições deste ano. "Será o fórum onde vamos dizer qual a candidatura que tem condições de implantar um projeto de nação focado na valorização do trabalho e na distribuição de renda".

História - Para o secretário geral da CGTB, Carlos Alberto Pereira, a Conferência será histórica, com o conjunto das Centrais "aprofundando a sua unidade". "Vamos ampliar as vitórias da classe trabalhadora, que apontam para o fortalecimento do nosso mercado interno, a defesa do pré-sal e maiores investimentos na industrialização do País".

Segundo o secretário Geral da UGT, Canindé Pegado, "este ano vamos substituir a Marcha da Classe Trabalhadora que fazemos todos os anos para Brasília pela Conferência a que dará maior visibilidade às reivindicações das Centrais Sindicais".

Luís Antonio Feltino, da Executiva da Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST), citou as infelizes e preconceituosas declarações de Boris Casoy e os ataques ao MST como exemplos dos gargalos a serem superados na comunicação, reforçando a necessidade da luta pela democratização dos meios.


Fonte: www.mst.org.br

Via Campesina Brasil entrega a Lula propostas para o Haiti

Durante a visita do presidente Lula ao Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, representantes da Via Campesina Brasil que vivem há cerca de um ano no Haiti irão formalizar um pedido de solidariedade internacional para ajuda em caráter emergencial à população do Haiti, após o recente terremoto que devastou o país. A carta solicita do governo brasileiro articulação institucional e infra-estrutura para a realização de ações nas linhas de acesso à água, assistência agrícola e recursos humanos especializados.

Em entrevista coletiva, os integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e do MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores), Sidevaldo Miranda e Carlos Roberto, respectivamente, conversaram sobre as iniciativas. Segundo eles, a produção de alimentos pelo próprio povo do país caribenho deve garantir a soberania e sobrevivência neste momento de calamidade. Para isso, os movimentos articulados na Via Campesina propõem em regime emergencial a doação de sementes prioritárias (milho, feijão, sorgo etc.) para a auto-sustentação da população, além do intercâmbio de 120 jovens haitianos em assentamentos no Brasil, para se formarem em cursos técnicos de agroecologia e retornarem o conhecimento ao seu povo.

Para o acesso à água, na situação de contaminação generalizada, está proposta a construção de açudes alternativos nas montanhas em áreas rurais, já que há um grande movimento de êxodo urbano após os tremores. Ainda propõem a construção de poços artesianos e a doação de 50.000 cisternas pelo Governo do Brasil (mil unidades já foram doadas pelo Governo da Bahia).

Por fim, a Via Campesina Brasil sugere o envio de um exército de ajuda humanitária, entre médicos, técnicos agrícolas e agrônomos, pedreiros, carpinteiros e outros profissionais para auxílio imediato, ações mais baratas que os R$ 60.000,00 (sessenta mil reais) pagos pelo Brasil para manter por ano cada um dos 1.200 soldados. Quarenta camponeses da Via já irão no próximo dia 25/2. Ao contrário da truculência dos exércitos presentes na missão Minustah da Organização das Nações Unidas (ONU), o exército humanitário - que precisará da intervenção do Itamaraty para pousar aeroporto ocupado por mais de 12.000 soldados americanos - deve conduzir a solidariedade dos brasileiros ao país.Tudo será articulado com os movimentos campesinos do Haiti.

Também presente na coletiva cedida à imprensa durante o Fórum Social Mundial, o Secretário Geral da CUT, Quintino Severo, anunciou as linhas de ação da central para solidariedade ao povo do Haiti, já em andamento. Desde 19/1, a conta “SOS Haiti” está aberta para arrecadação de doações dos sindicatos da base filiada. Além da contribuição financeira, duas brigadas farão o serviço humanitário de emergência, com agentes de saúde, carpinteiros e pedreiros.

As organizações lá presentes há um ano já propunham, desde antes do terremoto, a construção de uma Escola Técnica Agrícola e um Centro Nacional de Produção de Sementes, bem como o reflorestamento no país como estratégia de sustentabilidade climática e potencial econômico-extrativista. O Haiti é um país com 27.650 km² e, segundo estudos da Via Campesina, uma população de nove milhões de habitantes, dos quais 60% estão no campo.

Leia abaixo a íntegra da carta que será encaminhada ao presidente.

Porto Alegre, 26 de Janeiro de 2010

Ao Presidente da República Federativa do Brasil

Exmo. Luiz Inácio Lula da Silva
Sensibilizada com a enorme pobreza que afeta o povo haitiano, a Via Campesina Brasil enviou uma brigada de solidariedade àquele país em janeiro de 2009, com o objetivo de ajudar a resolver os problema de miséria, fome, analfabetismo, destruição ambiental e escassez de água. Nesse período, identificamos as principais necessidades do meio rural e construímos uma relação fraterna e solidária com o povo haitiano.

Em 12 de janeiro de 2010, como é do seu conhecimento, Sr. Presidente, o mais pobre país das Américas sofreu uma das maiores catástrofes da história. Um terremoto que destruiu a capital haitiana e ceifou milhares de vidas, criando condições que agravam e perpetuam a pobreza. Nesse sentido, a Via Campesina viu-se na responsabilidade de fortalecer a sua solidariedade.

A dimensão gigantesca da destruição nos exige somar esforços e potencializar a ajuda humanitária. Mas queremos ir além da urgente e indispensável ajuda de caráter emergencial. Queremos, como Via Campesina Brasil, contribuir com uma política que ajude a tirar o povo haitiano dessa condição histórica de pobreza.

Tendo em vista que, para aspectos de emergência, os Estado-Nações já estão realizando seus apoios, a Via Campesina se dispõe a trabalhar com 50 mil famílias de camponeses, priorizando nossa atuação no meio rural e nas questões estruturantes. Assim, juntamente com os movimentos camponeses do Haiti, foi construída uma proposta concreta de solidariedade ao povo haitiano, que demanda ajuda do governo brasileiro.

Plano de solidariedade ao povo haitiano:
1 – Estrutura para abastecimento de água para consumo humano, agricultura e pecuária
Visa a construção de açudes e reservatórios, perfuração de poços artesianos e cisternas de polietileno. Necessidades:
1.1 – Dois tratores de esteira, duas retroescavadeiras e dois caminhões (para transporte de máquinas)
1.2 – 50 mil cisternas de polietileno (precisam chegar antes de abril, que é o período chuvoso)
1.3 – Dois equipamentos completos para perfurar poços artesianos.

2 – Fortalecer a produção agrícola de alimentos
Visa enviar sementes, ferramentas e os insumos necessários para a produção dos principais alimentos da população.
Necessidades:
2.1 – Sementes de hortaliças agroecológicas (pimentão, repolho, cebola, alface, cenoura, beterraba, outras), feijão (70 dias), feijão guandu, arroz de sequeiro, sorgo, milho.
2.2 – Ferramentas (enxada, facão, picão, pá, foice, plantadeira manual, etc).
2.3 – Cinco tratores agrícolas 75 HP.
2.4 – Alimentos de necessidade imediata: feijão, arroz, leite em pó, quirera de milho (canjiquinha), etc. Articular apoio por meio da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento).
2.5 – 50 mil fogareiros: no Haiti, a base energética para cozinhar é o carvão vegetal. Com o deslocamento de grande parte da população para o campo, um dos primeiros problemas de escassez será a lenha, pois o país já tem 97% de desmatamento.

3 – Recursos Humanos emergenciais:
Visa garantir a ida de uma brigada de 50 membros da Via Campesina Brasil para atuar emergencialmente no período de seis meses a um ano. Os trabalhos dessa equipe se darão nas áreas de construção de moradias, agricultura, construção de açudes, poços e cisternas.
Necessidades:
3.1 – Garantir deslocamento das 50 pessoas, com a perspectiva de ida no início de março.
3.2 – Garantir a vinda de 120 jovens haitianos para o Brasil, com o objetivo de trocar experiências e estudar no Brasil para que possam retornar e contribuir com a reconstrução de seu país.

Diante dessas demandas emergenciais, vimos por meio desta carta solicitar do governo brasileiro o compromisso nessa tão importante missão de solidariedade aos pobres e explorados do Haiti.

Atenciosamente,
VIA CAMPESINA – BRASIL
MPA, MST, MAB, MMC, CPT, PJR, FEAB, ABEEF, CIMI E PESCADORES.

Acampamento da Juventude do Campo e da Cidade reúne jovens de todo o Rio Grande do Sul

Juventude que ousa lutar constrói o poder popular!

Mais de 400 jovens do campo e da cidade encontraram-se nos dias 22 a 24 de janeiro em Santa Maria em mais um acampamento do levante popular da juventude do campo e da cidade junto com o 1° Fórum Social da Economia Solidária. Jovens de diversas regiões do estado debateram, refletiram, integraram-se e procuraram soluções para enfrentar através da luta e de estudo os principais problemas pautados pelos jovens.

Falta de estrutura em saúde, educação, transporte, a dificuldade de ingressar no mercado de trabalho, de ter acesso a terra e ter condições de se permanecer no campo são um dos principais pontos discutidos e tidos como prioridades de se enfrentar, além dos demais eixos de luta tirados a partir dos debates. Dentre os principais pontos de reivindicação está a luta pelo meio ambiente, pelo antiimperialismo, pela contra cultura, contra a violência, pelo enfrentamento dos principais apontamentos levantados e pela construção de uma sociedade onde campo e cidade construam juntos um poder popular que proporcione condições baseadas na justiça social, igualdade, pluralidade e diversidade cultural, onde a liberdade e a responsabilidade sejam características que andem juntas e solidifiquem a construção de mundo melhor.

O acampamento estava composto por participantes do Levante Popular da Juventude, PJR, PJ, MMC, MAB, MST, MTD e demais movimentos da Via Campesina. Trabalhos de base, plenárias regionais e um encontro estadual vão ser atividades que darão continuidade na abordagem dos temas debatidos.

O compromisso que cada um levou de sermos sujeitos na construção de um novo modelo social é mais uma forma de mostrar e solidificar que um novo mundo é possível.


Fonte: www.mmcbrasil.com.br

Bolívia empossa Evo Morales pela segunda vez

Evo Morales foi empossado presidente da Bolívia, pela segunda vez, oficialmente nesta sexta-feira (22). Porém, na quinta-feira (21), um ato de posse simbólico, caracterizado pelo governo como um gesto de “auto-afirmação cultural dos povos indígenas diante do mundo” foi realizado nas ruínas pré-colombianas da cidade de Tiwanaku, a aproximadamente 80 quilômetros ao norte de La Paz.

Milhares de pessoas se dirigiram ao centro arqueológico para presenciar o ato, carregado de simbologia, que declarou Morales como guia espiritual da Bolívia. Ao descer do helicóptero, o primeiro mandatário boliviano foi guiado por uma comitiva de sábios indígenas até a pirâmide de Akapana, onde foi recebido ao soar de bumbos e pututus (tambores indígenas). Lá, Morales foi recebido pelos amautas (sábios aymaras) em uma cerimônia de limpeza de energia e vestido com um traje branco com duas listras coloridas e com um gorro de quatro pontas negro.

Em cima da pirâmide, Morales se dirigiu aos quatro pontos cardeais, fazendo oferendas, queimadas em pequenas fogueiras. Primeiro caminhou a oeste, onde a oferenda foi em agradecimento a Pachamama por sua primeira gestão. Em seguida, Morales caminhou ao sul, pedindo as divindades andinas força à economia do país. No leste, as oferendas foram feitas em nome da integração do país e, ao norte, em nome de todos os seres vivos e da “Madre Tierra”. Ao final, a anciana indígena Nicolasa Choque Santalla, de mais de 100 anos de idade, tomou Morales pela mão e o levou até o templo de Kalasasaya. A anciana representava a sabedoria e a complementaridade (homem-mulher) andina.

A aparição do presidente na escadaria principal de Kalasasaya era o ponto mais esperado pelo público. Ao sair de mãos dadas com Nicolasa pelo portal, que dava de frente para as escadas e para a multidão, Morales foi ovacionado. Ali, o presidente recebeu a benção de oito sábios indígenas, sendo quatro homens e quatro mulheres, ganhou o bastão de mando de uma casal de crianças e, em seguida, iniciou seu discurso em aymara e quéchua, antes de falar em espanhol.

Após saudar todos os presentes, em especial à guatemalteca Rigoberta Menchú, uma referência indígena, ganhadora do prêmio Nobel da Paz em 1992, Morales abriu o discurso dizendo que é presidente para servir aos bolivianos e contribuir com a humanidade. “Se não mudamos a Bolívia, não mudamos o mundo, mas se não mudamos o mundo, não mudamos a Bolívia” e completou: “Quem não vivi para servir, não serve para viver”.

Citando o ex-presidente boliviano Gualberto Villaroel, o presidente disse não ser inimigo dos ricos, mas mais amigo dos pobres e bradou: “Os povos do mundo, sempre de pé, nunca de joelhos frente ao capitalismo”.

Segundo Morales, seu governo chegou a conclusão de que “agora é melhor defender os direitos da “Madre Tierra” do que os direitos humanos”, uma vez que só a defesa dos direitos humanos não assegura a vida no planeta. O líder boliviano afirmou que seu governo é guiado pelos princípios indígenas do “vivir bien” que se baseiam em “saber escutar, saber compartilhar e saber sonhar”. Nas palavras de Morales, “saber compartilhar é esquecer de competir.


Posse oficial
Já nesta sexta-feira (22), a Assembléia Plurinacional – correspondente ao antigo Congresso Nacional – proclamou oficialmente Evo Morales Ayma e Álvaro Garcia Linera como presidente e vice-presidente, respectivamente, da Bolívia. A cerimônia atraiu milhares de pessoas à Praça Murillo, no centro de La Paz, onde ficam a sede do parlamento e o palácio presidencial. Estavam presentes os presidentes do Equador, do Paraguai, da Venezuela e do Chile, o príncipe espanhol, além de representações oficiais de inúmeros países.

Em seu discurso de posse, o vice-presidente Álvaro Garcia Linera afirmou que o atual processo de mudanças serve para acabar com o que o sociólogo boliviano chamou de “Estado aparente”, incapaz de incorporar hábitos, culturas e formas de organização social presentes na Bolívia. “A cidadania instalada pela República liberal foi de castas e de sobrenomes”, afirmou. Segundo Linera, a República liberal foi constituída em cima de quatro “falhas tectônicas” que permitiram a sublevação social que deu origem ao atual processo político. Essas falhas foram o racismo, a não regionalização do Estado, a exclusão da sociedade no controle dos recursos e a construção de uma economia subordinada aos interesses estrangeiros. “Nosso horizonte estatal é socialista. É comunitarizar a riqueza, é o que faziam nossos antepassados, mas em uma escala menor. Outro requisito é manter a capacidade de mobilização, só ela pode vencer as adversidades. Necessitamos também derrotar inimigos internos: o faccionalismo, a corrupção e a ambição. Precisamos transformar o poder político em poder econômico e poder cultural. Por último, não há revolução que triunfe sem solidariedade internacional. A única maneira de derrotar o império é construir outra globalização”, concluiu o vice-presidente.

Em seu primeiro discurso na Assembléia Plurinacional, Evo Morales saudou a diversidade dos novos parlamentares: “É uma alegria ver esse Congresso como um concurso de chapéus e vestimentas. Não é mais um concurso de gravatas”. Em seguida, o presidente fez um longo recorrido pelas conquistas de sua primeira gestão e também sobre os planos para o próximo mandato. A cerimônia oficial foi encerrada com um desfile de organizações sociais e de militares ao redor da Praça Murillo.


Fonte: www.brasildefato.com.br

Solidariedade com o Povo do Haiti

Companheiros e companheiras,
Amigos e amigas,

Diante das notícias que nos chegam do Haiti, cresce nossa preocupação e indignação diante do processo de militarização da ajuda humanitária.

Como Jubileu Sul e outras redes e movimentos sociais, pensamos que nossa ajuda a médio e longo prazo não deve ser somente em caráter humanitário. Neste sentido, temos difundido informações de como tornar possível essas doações no imediato. Nosso apoio mais substantivo pode estar dirigido a cooperar com PAPDA (Plataforma Haitiana para o Desenvolvimento Alternativo, que reune inumeras organizações e movimentos sociais do Haiti) e com o trabalho deles e das organizações parcerias com as quais se articulam.

A proposta é de adotar o PAPDA como receptora dos recursos financeiros que temos condições de apoiar.

Estamos recebendo informações desde Porto Príncipe e sabemos que é urgente que se possa enviar para lá toda a ajuda necessária, porem também é urgente que as organizações possam voltar a ter suas funções operativas novamente. Para isso, é necessário que tenham um local (escritório) para trabalhar com todos os insumos, como computadores, gerador de energia, internet, etc.

Então, como Jubileu Sul em âmbito global, propondo que em cada país se abra uma conta bancária para arrecadar fundo das organizações amigas e que no dia 05 de fevereiro possamos enviar uma primeira remessa de recursos financeiros para garantir que nossos companheiros do PAPDA possam se antecipar aos interesses imperialistas nas propostas de reconstrução do país.

Se não houver, então, outro canal mais direto no momento, podemos dar as indicações necessárias para transferir os fundos para Santo Domingo, onde os companheiros/as da Assembléia dos Povos do Caribe, que trabalham conosco e com PAPDA, com SOFA, com a Via Campesina, com o Grito e muitas outras organizações populares no Haiti, estejam colaborando para recepcioná-los e assegurar que a ajuda chegue a um bom porto.

Acreditamos que o Haiti pode sair desta situação de maneira livre e soberana. Está nas mãos de cada um de nós fazer tudo para apoiar nosso país irmão.

Como Camille nos diz: “… Nunca necessitamos tanto de vocês!”. Vamos dar resposta a este pedido.

Atendendo a esse pedido de nosso amigo, companheiro e irmão Camille, que para nós representa o chamado de todo o povo do Haiti, o Jubileu Sul no Brasil em parceria com a Assembléia Popular Nacional, abriu uma conta para este fim específico. Recebemos notícias desde Porto Principe de que estão montando uma coordenação interorganizacional (SAKS, ICKL, PAJ, PAPDA, POHDH, ITECA, SOFA) para coordenar e fazer frente a toda essa situação, a qual o povo haitiano passa.

A sua doação, independente do valor (50,00; 20,00; 100,00 ou qualquer outro valor) será de fundamental ajuda para que os Movimentos Sociais do Haiti possam retomar suas atividades de organização e articulação do povo neste momento de estrema dificuldade.

Conta corrente:
Banco do Brasil (001)
Agência Nº 3687-0
Conta Corrente Nº 283.104-X

Na próxima segunda, o Grito dos Excluídos Continental e o Jubileu Sul Américas e Brasil farão o primeiro envio urgente de recursos aos nossos companheiros/as do Haiti de aproximadamente U$ 2.000,00, através de nossos irmãos da República Dominicana (Santo Domingo).

O próximo envio aos companheiros/as do Haiti será feito na data de 05 de fevereiro ou através da Brigada da Via Campesina que seguirá para o Haiti no final deste mês de janeiro.

Ao fazer a sua doação envie uma mensagem com o comprovante, se desejar, para registrarmos a doação para os correios eletrônicos: jubileubrasil@terra.com.br / assembleiapopular@terra.com.br ou pelo fax (011) 3105-9702.

Com nosso abraço solidário, seguimos na luta.

JUBILEU SUL / BRASIL
Tel. (55) 11 3112-1524
Cel. (55) 11 9116-3721
Fax. (55) 11 3105-9702
Skype: rosilene_wansetto
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Secretaria operativa
ASSEMBLEIA POPULAR
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Haiti - Muito além do terremoto

Desde o início da segunda semana de 2010, o Haiti – país mais pobre das Américas – vem sendo ponto de destaque e atenção em todo o mundo. Jornais, rádios, revistas, a internet e a TV. Governos, empresas, instituições... todos os olhares voltados para o Haiti, repito, o país mais pobre das Américas.

Porque tanta gente olhando para o Haiti? Quais interesses? Logo no início de ano, em férias, porque olhar para o Haiti? A causa de tantos olhares de tantos lugares não poderia ser outra... sim, não poderia ser outra, uma catástrofe. Na tarde da terça-feira, 12/01/2010, em um espaço de um minuto, um terremoto atingiu o pequeno país haitiano, destruindo vidas e edifícios (inclusive a sede da missão das Nações Unidas no país, o palácio presidencial, a catedral). Já se estima que 100 mil seja o número de pessoas mortas por causa desta catástrofe. Escolas e hospitais, que já não eram suficientes para atender a população, também foram destruídos.

Sim, mas todos esses dados nós já sabemos. A mídia e os governos estão todos os dias dizendo, como também mostrando a quantidade de doações e ajudas urgentes para o Haiti. Portanto, gostaria de alertar para um outro aspecto que a mídia e os governos não nos mostram, o Haiti que não conhecemos, que não nos é mostrado. O Haiti antes e para além do terremoto.

Conhecer um pouco mais deste pequeno país é conhecer um povo que busca cotidianamente sua liberdade e soberania, um povo que não se rende e não abaixa a cabeça diante da opressão. Os haitianos foram os primeiros escravos a conquistar a libertação e a independência de seu país no século 18 e, desde o século 20, enfrentam ditaduras e intervenções imperialistas com resistência exemplar.

Em junho de 2010 se completarão seis anos que os/as haitianos/as vêm travando mais uma batalha nesta longa luta pela liberdade e soberania. Uma batalha contra a ocupação de seu país pelas tropas da Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti). As tropas internacionais da ONU (Organização das Nações Unidas), com o discurso de que estão lá como “Força de Paz”, são um braço da opressão e do domínio na América Latina. Ora, é simples, se são “tropas de paz”, porque são formadas por soldados fortemente armados, e não por médicos/as, técnicos agrícolas e professores/as?

Alguns dados nos fazem pensar um pouco nos inúmeros “terremotos” que vive o Haiti: Dos 8,1 milhões de habitantes, 80% vivem abaixo da linha de pobreza, quase 75% das casas não têm água encanada ou esgoto, menos de 40% da população tem acesso à água potável, não há coleta de lixo, 80% da população está desempregada, a renda per capita anual do Haiti representa 15% da média latino-americana, o analfabetismo atinge 45% da população, a expectativa de vida caiu de 52,6 anos em 2002 para 49,1 anos em 2003, só 24% dos partos são atendidos por pessoal qualificado, o País ocupa o posto 153° na classificação do Índice de Desenvolvimento Humano (PNUD 2004).

O questionamento é simples e direto. Em quase seis anos de “missão”, o que mudou no Haiti? O salário mínimo diário de um trabalhador/a haitiano/a continua sendo o mais baixo da América Latina, estando por volta de 1,7 dólar. E quando a população se organiza para reivindicar aumento salarial, contra a fome ou pelo acesso à água, tais lutas sofrem forte e violenta repressão. E mais, dos recursos destinados a “missão” (600 milhões de dólares por ano), 85% vão para os militares e policia civil.

A presença de militares no Haiti é uma forma de treinamento para lidar com as periferias urbanas empobrecidas. Prova disso é que os militares brasileiros recebem treinamento no Rio de Janeiro, vão para o Haiti e, depois, voltam para atuar na ocupação das favelas do Rio de Janeiro. O Haiti tornou-se um campo de experimentação, um “ensaio” para a militarização das periferias urbanas. Pois então, qual povo gostaria de “conviver” cotidianamente com soldados armados até o pescoço e tanques de guerra, nas ruas e em todo o lugar, em nome da “paz”? “Paz sem voz não é paz, é medo!”, já diz a música do Rappa. Pior é saber que o Brasil é o país que está no comando de tais tropas.

Outra questão é a ligação entra a ocupação militar e a ocupação econômica. Pois a “missão”, na verdade, lá está para ajudar as empresas e indústrias multinacionais a explorar brutalmente essa mão-de-obra barata. Não é à toa a instalação de dezoito zonas francas, para circulação de mercadorias sem se sujeitar às tarifas alfandegárias e impostos, configurando-se uma “mini-ALCA” para o Haiti. Praticamente não há mais empresas estatais, pois as privatizações estão deixando o país nas mãos dos estrangeiros. O grande objetivo não é resolver a pobreza, mas produzir, a custos mínimos, para o mercado norte-americano, garantindo que as elites continuem a explorar e escravizar o povo, controlando a população e a economia.

Estes, que exploram historicamente o Haiti, hoje aparecem fazendo “doações” generosas. Sobre estes, São Gregório de Nissa, nos anos 300, já havia dito: “Talvez dês esmolas. Mas, de onde as tiras, senão de tuas rapinas cruéis, do sofrimento, das lágrimas, dos suspiros? Se o pobre soubesse de onde vem o teu óbolo, ele o recusaria porque teria a impressão de morder a carne de seus irmãos e de sugar o sangue de seu próximo. Ele te diria estas palavras corajosas: não sacies a minha sede com as lágrimas de meus irmãos. Não dês ao pobre o pão endurecido com os soluços de meus companheiros de miséria. Devolve a teu semelhante aquilo que reclamaste e eu te serei muito grato. De que vale consolar um pobre, se tu fazes outros cem? (Sermão contra os usurários).

Do outro lado, desde 2005, quando o Jubileu Sul organizou uma Missão Internacional de Investigação e Solidariedade ao Haiti, foi fortalecida a campanha internacional de solidariedade permanente (com ou sem terremoto) por fora as tropas do Haiti, pela re-construção do país e pela garantia da soberania e autonomia do povo haitiano, denunciando toda esta situação. Inclusive a campanha já organizou diversas missões de visitas ao Haiti e vindas de delegações haitianas ao Brasil. A campanha é organizada por diversas organizações e movimentos de todo o mundo, dentre elas, o Jubileu Sul, o Grito dos Excluídos, a Assembleia Popular, a Via Campesina, entre outros.

Com ou sem terremoto, é necessário intensificar a campanha de solidariedade com as lutas do povo haitiano. Salvar as vítimas, re-construir o Haiti, cancelar as dívidas, retirar as tropas, enviar solidariedade, e o lema daquele país já nos dá o impulso: “A união faz a força”. O Haiti nos convoca, sua vida nos exige!


Elson Matias
(Assembleia Popular / PB).


*Texto baseado em:
-Relato da Missão Internacional de Investigação e Solidariedade ao Haiti: http://www.jubileubrasil.org.br/nao-a-guerra/Livro_Haiti_final.pdf

-Panfleto “Haiti nos convoca – 5 anos de ocupação basta!”: http://www.jubileubrasil.org.br/nao-a-guerra/folder%20haiti%202009%20versao%20xerox%20at.pdf

-Cartilha “Haiti: Sua história, seu povo e sua luta”: http://www.jubileubrasil.org.br/nao-a-guerra/Cartilha%20Haiti%20-%20set2009.pdf