CARTA DE APOIO E SOLIDARIEDADE A DOM LUIZ CAPPIO (OFM)

“Queremos ser uma presença consciente,
desafiadora, na realidade onde vivemos,
captando nela os anseios e busca de libertação,
para sermos agentes na construção
de uma nova sociedade (...).” [1]

“(...) comprometemo-nos a ser voz profética
que anuncia a libertação integral do homem e da mulher,
e denuncia todo abuso de poder e qualquer violência
à vida e à dignidade da pessoa humana.” [2]


Querido Dom Luiz Flávio Cappio,

Paz e Bem,


Somos uma fraternidade da Juventude Franciscana (JUFRA) e atuamos, desde 1990, no município de Santa Rita, Paraíba.
Santa Rita é o município paraibano conhecido como “Terra dos canaviais”, “Rainha do Abacaxi” e “Cidade das Águas Minerais”. Mas, a serviço de quem estão esses bens? Estão a serviço do lucro dos latifundiários, ricos comerciantes e dos grandes exploradores do povo. Aos pobres, restam-nos apenas as águas poluídas pelos agrotóxicos derramados nas plantações de cana-de-açúcar e abacaxi, além de vir morar nas favelas, casos provocados pelo absurdo e impiedoso êxodo rural.
Mas, também somos um município da resistência de homens e mulheres de fé e de vida evangélica. Um município das Comunidades Eclesiais de Base e do Movimento Sem Terra, dos leigos/as articulados/as e das mulheres missionárias, dos pescadores/as e dos posseiros/as da Fazenda Tambauzinho, dos catadores/as de material reciclável e dos operários/as das indústrias de calçados... do “Povo Unido, jamais vencido!”

“Nós, jovens jufristas, cremos no amor que é a essência da vida, que se exprime de maneira vertical, no relacionamento com Deus, que colocamos acima de tudo e, de maneira horizontal, no relacionamento com os irmãos/ãs, de modo especial com os empobrecidos e oprimidos (1Jo 4, 20-21). Queremos viver este compromisso de vida no contexto da Igreja da América Latina e da realidade presente, com seus grandes desafios à fé cristã, guiados/as pela vida e pela mística que São Francisco de Assis viveu, no cumprimento de nossa missão de leigos/as da Igreja.”[3]

Por isso e por causa disso, viemos por meio desta simples carta, prestar nosso singelo “Apoio e Solidariedade a seu gesto profético”.

Nossas palavras são as mesmas de outro profeta, Pedro Casaldáliga: “Segundo o Bom Pastor, ser bom pastor é “dar a vida” pelo rebanho. Mas ninguém dá a vida, no dia do testemunho último, se antes não foi dando diariamente a vida. Porque não se trata de que nos tirem a vida. ‘Ninguém me tira a vida’, dizia Jesus. Trata-se de dá-la, livremente”.[4]
Em favor dos pobres e contra a pobreza, nos comprometemos então, em “franciscana solidariedade e comunhão” com o SINFRAJUPE[5] da FFB[6], em:

1. Desenvolver o espírito e a mística “francisclariana” do cuidado com a Criação;
2. Trabalhar a dimensão simbólica, lúdica e religiosa da água;
3. Lutar pela revitalização de todas as águas: rios, fontes, aqüíferos, lagos e mares;
4. Lutar contra o Agro-Hidro-negócio e o modelo de desenvolvimento concentrado nele;
5. Participar dos movimentos contra a privatização das águas, lutando para que a água seja considerada patrimônio e direito de todas as criaturas, e não seja tratada como uma mercadoria de compra e venda;
6. Valorizar e respeitar o saber e a cultura de comunidades tradicionais, povos indígenas, quilombolas, camponeses e grupos sócio-culturais minoritários;
7. Desenvolver uma cultura de cuidado e respeito à "Irmã e Mãe Terra";
8. Aprofundar a teologia franciscana da Criação;
9. Apoiar os trabalhadores/as rurais sem terra, os pequenos/as agricultores/as e a Agricultura Familiar e Ecológica;
10. Apoiar a luta contra a manipulação da vida pelos transgênicos e a defesa das sementes como patrimônio da humanidade;
11. Aprofundar o conceito de direito humano à alimentação e segurança alimentar;


“Esta é a vida que nós jovens da JUFRA, apesar de nossa fragilidade, queremos viver. Concluímos, reafirmando que cremos no Amor que vem de Deus, que está em nós, que está nos nossos irmãos/ãs, que está nas criaturas que nos rodeiam, e que nos conduz para uma visão otimista e esperançosa do mundo, da mulher e do homem, e da história. Guiados/as por Francisco e Clara de Assis, reafirmamos nossa vontade de seguir o caminho de Cristo. A ele, honra e glória pelos séculos. Amém!”[7]


Esperamos que o Bom Pastor, Jesus de Nazaré, nos envie, cada vez mais, pastores dispostos a negar os privilégios que os poderes político e econômico sempre estão prontos a lhes conceder.


Que o Bom Pastor comunique seu Espírito de liberdade e de serviço a muitos pastores da Igreja de nosso Nordeste, em especial, de nossa Paraíba.


Rios São Francisco, Paraíba, Preto, Tibiri, Mumbaba[8]... Vivos!
Terra e Água – Rio e Povo


Santa Rita – PB, 05 de dezembro de 2007.
Juventude Franciscana (JUFRA) – Fraternidade Irmão Sol com Irmã Lua



[1] Manifesto da Juventude Franciscana do Brasil, nº 9;
[2] Manifesto da Juventude Franciscana do Brasil, nº 18;
[3] Manifesto da Juventude Franciscana do Brasil, Introdução;
[4] CASALDÁLIGA, Pedro. Dar a vida pelas ovelhas, in Com Deus no meio do Povo;
[5] SINFRAJUPE significa Serviço Intra-Franciscano de Justiça, Paz e Ecologia; Esses compromissos são alguns de seus eixos de ação para o triênio 2007-2009;
[6] FFB significa Família Franciscana do Brasil;
[7] Manifesto da Juventude Franciscana do Brasil, Conclusão;
[8] Paraíba, Preto, Tibiri e Mumbaba são nomes de rios localizados no município de Santa Rita – PB;

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