Memória da 21ª Romaria da Terra da Arquidiocese da Paraíba

Vida, Liberdade e Pão – Queremos terra sem concentração!
Do Assentamento Boa Vista ao Assentamento Padre Gino
Sapé – Paraíba

“Acorda e levanta, abre bem a vista /
Romeiros da Terra sai de Boa Vista.
Sai de Boa Vista com grande alegria /
Vai a Padre Gino esta Romaria.
Acorda e levanta, venham ver quem é /
Romeiros da Terra chegando a Sapé.
Chegando a Sapé com grande emoção /
Vamos a Padre Gino nesta procissão.”
(Trecho do Canto da 21ª Romaria da Terra)

Frutas, hortaliças, feijão, milho, inhame e outros alimentos produzidos em 13 assentamentos da reforma agrária dos municípios de Sapé e Cruz do Espírito Santo, na Zona da Mata paraibana, foram comercializados no sábado (07/11), das 5h às 12h, no centro de Sapé, a 55 km de João Pessoa. A feira deu início a programação da 21ª Romaria da Terra, promovida pela Arquidiocese da Paraíba e pela CPT (Comissão Pastoral da Terra).

A Romaria da Terra acontece a 21 anos na Arquidiocese da Paraíba, organizada pela CPT, uma iniciativa do saudoso Dom José Maria Pires, apoiada por Dom Marcelo Carvalheira, e hoje assumida por outras Pastorais Sociais também, além da CPT. O tema e lema desse ano foram: “Vida, Liberdade Pão – Queremos terra sem concentração!”

Já a noite, sob a lua, a partir das 19:00, mais de cinco mil pessoas organizadas em caravanas vindas das diversas Comunidades da cidade e do campo foram acolhidas no Assentamento Boa Vista, no município de Sapé/PB. No mesmo local houve a Celebração Eucarística de abertura da Romaria, presidida por Dom Genival Saraiva, coordenador do Setor das Pastorais Sociais da CNBB Nordeste 2.

Em seguida, os/as romeiros/as saíram em caminhada do Assentamento Boa Vista para o assentamento Padre Gino – berço das Ligas Camponesas –, fazendo um percurso de 13 km. Não faltaram as canções que refletem poeticamente a realidade dos trabalhadores/as do campo e da cidade.

No caminho, houve duas paradas. A primeira, 5 km depois do início, na Comunidade de Cuba, houve apresentação teatral sobre a luta dos movimentos sociais do campo, e a tradicional partilha do beiju e do café, feitos pela própria Comunidade.

Depois de caminhar mais 2 km, os/as romeiros/as entraram em na cidade de Sapé, cantando “Acorda América, chegou a hora de levantar. O sangue dos mártires fez a semente se espalhar”, pois essa região é lugar de muito testemunho de luta que levou até o martírio... João Pedro Teixeira, Pedro Inácio, Nego Fubá, Tarzan... e tantos outros.

Em frente da matriz de Nossa Senhora da Conceição, o forró já esperava os/as romeiros/as. Era a Banda “Os Cabras de Mateus”, do Alto do Mateus, em João Pessoa, animando com canções de Luiz Gonzaga e outros. E foi aí que uma grande mulher de luta e testemunho partilhou sua experiência. Era Elisabete Teixeira, que contou sua luta durante a ditadura, em defesa dos trabalhadores/as e em memória de seu marido, João Pedro Teixeira.

E logo em seguida, deu-se início a ciranda. Muitas cirandas, uma dentro da outra, envolvendo todo o povo presente... o tempo passou, e ninguém se preocupava. “Vem caminheiro o caminhar é caminhar, vai peregrino meu amor testemunhar...”.

Mas prosseguindo a caminhada, mais 7 km pela frente, os/as romeiros/as chegaram ao Assentamento Padre Gino, onde a Romaria foi encerrada com a benção de envio, feita pelos frades franciscanos presentes, e que eram mais de quinze.

Nos pés, cansados, e no peito, já saudoso, segue o compromisso da luta e da resistência, na certeza de que “O Senhor irá a nossa frente para nos mostrar o caminho e para nos iluminar” (Ex 13,21).


Elson Matias.

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