Como a Aneel é o órgão federal que regulariza a distribuição de energia elétrica no país, os movimentos sociais - que estão implementando a Campanha Nacional Contra os Altos Preços da Energia Elétrica - questionaram a atual política do setor elétrico brasileiro, do qual fazem parte, além das empresas geradoras, as empresas distribuidoras, que obtém um lucro extraordinário com a venda da energia. Segundo as lideranças presentes na audiência, a população pobre não está conseguindo pagar a conta de luz, uma das mais caras do mundo. Por outro lado, criticaram os altos incentivos que empresas multinacionais recebem do governo na compra da energia.
A comparação levada para debate foi a taxa paga pela empresa Vale e pelos consumidores residenciais. Enquanto uma família mineira paga cerca de R$ 60,00 por 100 Kwh de energia, a Vale paga R$ 3,30 pela mesma quantidade utilizada. “Não é possível que os pobres deste país paguem a conta de grandes multinacionais”, afirma Wilnean de Melo, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD). Segundo Melo, o MTD participa da Campanha contra os Altos Preços da Energia Elétrica porque entende que assim enfrenta a lógica que mantém o desemprego, estabelecida também pela exploração através do preço da energia.
Depois de fazer uma longa explanação sobre a composição da tarifa de energia elétrica no Brasil, o diretor da Aneel reconheceu que ela é "caríssima" e que, de fato, a população mais pobre tem dificuldades em pagar a taxa. No entanto, teve dificuldades para justificar o porquê de uma família brasileira pagar o dobro de uma família estadunidense pela mesma quantidade de energia consumida, já que ambos os sistemas possuem a mesma fonte de geração. Kelman reconhece que há "gorduras" (lucro extraordinário) obtidas pelas produtoras e distribuidoras. Segundo ele, o alto preço é fruto dos altos impostos e encargos embutidos na conta, com uma média nacional girando em torno de 33% do valor total da tarifa.
Para o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), a explicação para os altos preços está no padrão estabelecido pelo custo de produção através da fonte energética mais cara em nível internacional, a fonte térmica. Ou seja, mesmo tendo baixo custo de produção, a energia elétrica de fonte hídrica possui tal preço pois é estabelecido pelo preço do petróleo. Sobre as conseqüências negativas que as barragens trazem para a população atingida, ele as reconheceu e mencionou a importância da criação de um marco regulatório que estabeleça regras às empresas construtoras de barragens no tratamento social das famílias atingidas.
Audiência Pública de Porto Alegre
No encontro com o diretor ainda houve a manifestação de repúdio ao ocorrido na Audiência Pública promovida pela Aneel em Porto Alegre/RS, no dia 24 de abril. Na ocasião, cerca de 40 militantes de movimentos sociais foram barrados por seguranças do prédio e impedidos de participarem. Frente a isso, registraram denúncia na Procuradoria do Estado e na Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão e aguardam pedido do Ministério Público Federal de cancelamento da audiência pública.
O que o MAB também questionou é o objetivo das Audiências Públicas que estão sendo realizadas em Porto Alegre, São Paulo, Belém, Salvador e Brasília. Para o movimento, é ilegítimo que um tema que vai afetar diretamente o orçamento da classe trabalhadora seja tratado dessa forma, com audiências apenas consultivas, somente em cinco locais e, como ocorreu na capital gaúcha, sem permitir que o povo organizado participe. “É inadmissível que mais uma vez a população fique à mercê do que está sendo tratado na Resolução 456, o que aconteceu em Porto Alegre é uma vergonha. Esta resolução trata da distribuição de energia elétrica em todo o Brasil e sabemos que as empresas distribuidoras são as mais interessadas na sua reformulação”, afirma André Sartori, militante do MAB. Entre os pontos discutidos nestas audiências, os principais são a diminuição do prazo para que a distribuidora corte a energia elétrica da família que atrasa o pagamento e o aumento da taxa de religação da energia.
As duas últimas audiências públicas promovidas pela Aneel serão realizadas nesta semana, no dia 7 de maio, em Salvador, e no dia 8 de maio, em Brasília. Para Sartori, é importante que a população em geral e os militantes de movimentos sociais participem destas audiências e manifestem contrariedade ao que está sendo proposto como alterações na Resolução 456: "A minuta da resolução é um retrocesso e, mais uma vez, quem vai pagar a conta serão os trabalhadores pobres, devemos entender o que está acontecendo e nos manifestar contra isso", conclui.
Fonte: http://www.mabnacional.org.br
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