Apenas começando... Assembleia Popular no Rio Grande do Norte

“Somos a memória das lutas,
Carregamos a perigosa imagem do sonho,
Nada causa mais horror à ordem
Do que homens e mulheres que sonham”
(Pedro Tierra)


Uma centena de lutadoras e lutadores de nosso povo potiguar reunidos em torno de um desafio que parece não caber em si mesmo: em uma conjuntura de descenso de nossas lutas, em um período marcado pelo pragmatismo do eterno presente, ousar pensar sonhos e futuros. Como a semente que ensina sempre a não caber em si, o Seminário de Formação e Organização da Assembleia Popular do Rio Grande do Norte deu os primeiros passos em direção a formação de uma nova fase de nossa luta, estudo e compromisso coletivo.

Estudamos a atual Crise. Uma nova e velha crise da sociedade do capital, expressão dos limites de um sistema que consome músculos, sangue e esperança de nosso povo para saciar a sede de riqueza e poder de poucos. Estudamos também o outro lado dessa crise: a rebeldia de nosso povo em luta por um Projeto Popular para o Brasil. Um novo país para uma nova sociedade, nascida da paixão e da esperança que movem nossos corações militantes.

Um país onde desenvolvimento deixe de significar o desejo de consumo insano onde o ter vale mais do que o ser. Onde desenvolvimento signifique a máxima ampliação do que há de mais valoroso no humano sentimento.

Um país de águas que se movimentam para a vida e não para a morte. Onde a terra é fonte de alimento para quem nela vive e trabalha. Onde sementes deixam de ser apenas um insumo geneticamente modificado para alimentar a sede dos donos do poder, sendo a expressão viva do ontem e do amanhã que plantamos hoje.

Um país onde o urbano signifique espaços compartilhados, moradia e transporte para todos. Um meio urbano onde todos possam ver e brincar a beleza do horizonte, onde o mar e o ar sejam o cotidiano de todos e não a imagem vendida para poucos.

Um país onde a palavra educação não faz sentido algum sem libertação. Que constrói a educação partindo da realidade para transformá-la. Educação que não pode tornar-se mercadoria, porque quer livrar o ser humano de um mundo dominado por mercadorias.

Um país onde a juventude é muito mais do que um público consumidor ou um símbolo de venda de cremes de pele. País onde juventude é marca de mudança, de contradições transformadoras, de novos espaços de convivência e de prazer.

Um país que entende a saúde como qualidade de vida e não ausência de doença. Entendemos saúde como um direito universal ao viver bem, que não pode ser entregue à gestão privada que cria a doença para vender a saúde como mercadoria rentável.

Um país de cultura popular, onde o incentivo à cultura seja o incentivo à riqueza e à diversidade das expressões de nosso povo e não o estímulo ao amoldamento da cultura de massas que reproduz a passividade em série através da indústria cultural.

Um país que preza pela comunicação livre da falsidade e da mentira. Um país que rompe com todo o monopólio do falar e do ser ouvido. Onde o direito à vez e à voz seja dado a quem tem o que dizer a favor dos interesses da maioria do povo brasileiro.

Um país vermelho e lilás, que sabe que não há socialismo sem feminismo. Que se revolta contra todas as formas de violência e que preza pelo direito de decisão da mulher sobre o seu corpo e sobre seu desejo. Um país de mulheres e homens livres e felizes.

Esse foi o nosso primeiro encontro. Muitos não se conheciam e, mesmo assim, se encontravam para calar uma saudade antiga. Saudade dessa enorme ciranda da luta e de viver hoje a beleza do amanhã que virá. Saudade também de tempos antigos. Saudade de reconhecer nos sons de tambores, de paus e de latas, as vozes que ecoam de nosso passado rebelde: são os sons da resistência dos tapuias à invasão colonialista, sons do exemplo de ousadia de nossos quilombos, da força organizada dos caboclinhos, da luta do povo potiguar contra todas as formas de opressão que retornam em nosso presente.

Nos aventuremos agora ao trabalho com o povo. Este já sente o chão quente o suficiente para não permanecer onde está. Alimentemos a militância uns dos outros. Reforcemos o estudo e a mística de nossa luta. Tomemos os muros e praças de nossas grandes e pequenas cidades. A todos àqueles que se alimentam cotidianamente da miséria de nosso povo, deixemos hoje o nosso recado: estamos apenas começando, certas idéias voltaram a ser perigosas... Somos a Assembleia Popular!


Ceará Mirim, 21 de Junho de 2009.


Pátria Livre! Venceremos!
Assembleia Popular: Mutirão por um novo Brasil


Fonte: Assembleia Popular no Rio Grande do Norte - http://assembleiapopularrn.blogspot.com

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